INTRÓITO

Subverter, Exorcizar, Viver, Beijar, Amar, Odiar, Saber, Piratear, Analisar, Mover, Parar, Rejuvenescer, Envelhecer... Tudo isso e nada. Petit Subversion é só um diário de alguém comum - de Anatólia... um fantasma.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SENTENÇA JUDICIAL EM 1833

VILA DE SÀO SEPÉ - RIO PARDO , RS.

O adjunto de promotor público, representando contra o chirú Manoel Duda, porque no dia 11 do mês na Província de S. Pedro, quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado chirú que estava em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito índio abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia Pires e Juvenal Alves Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.
CONSIDERO: QUE o malacara Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

QUE o dito Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Tininha, moças donzellas;

QUE Manoel Duda é um perverso perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até em homens.

CONDENO: O desviado do bons costume Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro.

Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.

Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de São Sepé

Rio Pardo, 15 de Outubro de 1833.

Fonte: Instituto Histórico do Rio Grande do Sul.
Tchê, achei o maior barato essa sentença, tanto que resolvi postar aqui.

domingo, 7 de dezembro de 2008

sureél

Desejo by jon j. muth (sandaman)


É surreal?! (eu acho) Porém, para boa entendedora palavras loucas bastam. Não é um código, não é mensagem cifrada é, no mínimo, uma coisa louca, profunda e bem direta – na veia.


Murmuras hen? E é tudo tão simples, Ana, um azul seboso, um passar sobre, alguns tombos.
O que?
A vida, azul seboso. Tu crias um caminho de dores para ti, Ana, o coração e o UMM são ilusões, descansa.
Não posso, as coisas pulsam, tudo pulsa, há sons o tempo inteiro, tu não ouves?
Mas, são os sons da cor, teu som Ana.
Como é o meu som?
Quando caminhas pela casa me dizendo mentiras, te fazendo leve, é estridente, uniforme, o apito do homem do trem antes do trem sair, tu sabes... aos poucos te incorporas ao existir do trem e começas a ser o som nevoento das rodas, expulsas uns chiados
Senhora A, teu som do UMM, me assusta, sabes?
Depois quando te deitas e me tocas, uns graves curtos vão se fazendo, olhe, se os figos emitissem sons quando os abrimos seria esse teu som nessa hora quando me tocas
E depois?
Quando os cães raspam uma terra úmida
Sim, afundam o focinho também, aspiram
Expectativa, alguma coisa viva por ali
Alguns só raspam a terra para espojarem-se depois,
De costas
Não tu, Ana, é como se o vento, a terra, a dura cartilagem, em saliva e cheiro me tocassem, tubas, flautas
Deves ouvir... nem sonatas, nem trios, nem quartetos de cordas, só vida, palpitação. Se pudesses esquecer, Ana, teias, torções, sentir a minha mão sem o teu vivo-morte, te acaricio apenas, olha, é a mão de uma mulher, vê que simples, dedos, mornura, te acaricio apenas, e a tua pele teu corpo vai sentir a minha mão como se a água te circundasse, mas não sou eu experienciada em ti, me vês como nunca me pude ver, eu não sou essa que vivencias em ti, és Ana apenas, Ana que pode ser feliz só sendo assim tocada, não é bom? Fecha os olhos procura imaginar o vazio, o azul seboso, pequenos tombos, eu uma mulher te tocando porque te amo e porque o corpo foi feito para ser tocado, toca-me também sem essa crispação, é linda a carne, não mete o Outro nisso, não me olhes assim, o Outro ninguém sabe, Ana, Ele não te vê, nem te ouve, nunca sabe de ti, sou eu, sopro e ternura, sim claro que também avidez e sombra muitas vezes, mas é apenas uma mulher que te toca, e metemos vida, é isso Senhora A, merda, é apenas isso, agora vamos, maldita vem viver, vem ser feliz. Vamos, tira essa roupa poeirenta de passado, pega, beija, abre a boca e grita pro invisível, pra luz, pro nojo e fornicas o mundo e aspira as expectativas que nem um cão.


É meio Hilda Hilst é meio Anatólia Akkale – Misturei as coisas pra dá certo a loucura de te dizer o que sinto o que penso, o que desejo, então ficou assim...