INTRÓITO

Subverter, Exorcizar, Viver, Beijar, Amar, Odiar, Saber, Piratear, Analisar, Mover, Parar, Rejuvenescer, Envelhecer... Tudo isso e nada. Petit Subversion é só um diário de alguém comum - de Anatólia... um fantasma.

domingo, 25 de maio de 2008

Cocacolismo

(Desenho em nanquim de Nêreo Ceratti)

“(...) O registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo – porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente”.
(Clarice Lispector – A Hora da Estrela)

“Como é mesmo o nome daquele refrigerante preto? Você pode esquecer tudo, o nome do seu amigo, o dia do aniversário de sua mãe, o dia em que você nasceu. Mas o nome daquele refrigerante preto você não esquece!”

domingo, 18 de maio de 2008

O Olho da Fada Sininho


Fotografia da memória

Maçãs empilhadas
Encontraram uma boca
Maçãs digeridas.


Gotas de orvalho
Vem o sol
Seca a lágrima.

Gota de orvalho
Ponta de choro
Logo vem o sol.

Horizonte vermelho
Logo o escuro
Morcegos guinchando.

A terra vomita
Lava quente
Ninguém tem nojo.

sábado, 17 de maio de 2008

Entrevista Visceral de Clarice Lispector


É só pegar no Youtube (assistir) uma das raras entrevistas de Clarice Lispector. Clarice decidiu que deveria deixar um testemunho, foi até a Tv Cultura do RJ decidida a falar, porque encasquetou que iria morrer, o que realmente aconteceu um mês depois, em Dezembro de 1977. Clarice pegou de surpresa a equipe de tv, (Ela fez a equipe assinar um documento que só permitiria a exibição pública da entrevista após sua morte) tanto que podemos observar o modo “solto” ou mesmo a “saia justa” de como ocorreu a entrevista; o plano da câmera só focando em Clarice, em nenhum momento mostra o entrevistador. Penso que nem podemos chamar de entrevista é, sem dúvida, um depoimento de dentro da alma – é visceral. Nesta época, final de 1977, Clarice estava lutando contra um câncer de ovário que se espalhou pelo corpo – um câncer galopante, tomava constantes injeções de morfina para acalmar a dor – dor que não cessava. Não sabemos qual a maior dor – a da alma ou do corpo? Esse depoimento me assombrou... nos deixa em silêncio... Clarice parecia acomodada num divã fazendo o que melhor sabia – literatura com alma. Esse depoimento foi ao ar três dias depois da morte de Clarice lispector.
Vale a pena assistir, todas as partes, 1, 2, 3, 4 e os outros vídeos também.

domingo, 11 de maio de 2008

O que temos na cabeça?

.... Ainda sobre o que temos na cabeça...
Seriam galos?
Roda-moinhos?
ou seriam mesmo
ninhos de passarinho?
Eu tenho um grilo.
Já falei?

sábado, 10 de maio de 2008

Cabeça de Passarinho


Seria esse o nosso buraco faltoso?
Onde os pássaros fazem ninhos...
Bem que ouço assobios quando escuto as cabeças que me cercam. (E as cabeças que passam)
Uns fazem melodias,
Outros fazem sons horripilantes.
Gosto daqueles que tem coruja...
Ihhh, mas coruja faz toca,
Então o buraco é mais embaixo.
Eu não tenho pássaro (acho)
Eu tenho um grilo na cabeça.

RICARDO SILVESTRIN - Poesia


Neste fim de semana tive o prazer de participar de um evento promovido pelo SESC/RS – Encontros Literários. O prazer maior foi ouvir a fala de Ricardo Silvestrin, poeta gaúcho. Muito bacana – Perpassamos pela literatura até o haicai. O poeta Silvestrin é uma mistura de erudito com Rock end roll – Sutil direto e agridoce. Silvestrin é inspirador no mínimo... Que mais dizer, virei fã. Ele fala de poesia como um escultor. “Literatura não é política, nem história, nem ideologia – literatura é arte com a palavra! E arte é uma experiência ritual.” (Obrigado ao Larry pelo convite, sem isso não teria desfrutado).


Uma concepção leiga do amor.
Tesão
é febre,
a fúria do corpo,
pedagogia da expressão.
Previsões para hoje:
aventuras,
ofertas,
andar po aí,
abraçar e acariciar todas as pessoas.
Vida íntima:
onde termina avagina?
o que mantém úmida a vagina?
Uma relação madura e equilibrada,
o último homem,
perfil de um gigante.
Orgasmo da mulher:
a estupenda noite de catch-as-catch-can.
Frases.
Cigarro.
Sexualidade:
o único pecado que existe.
Aqui pra vocês, ó!

- Ricardo Silvestrin -


banco da praça
os seios
e os receios da namorada
...................
instante do passarinho
fui olhar
fiquei sozinho

terça-feira, 6 de maio de 2008

Conversa de Cemitério

- Oi vizinho, como vai???
- Ohhh, em excelente estado de putrefação!!!

_ Mário Quintana _

As Máximas mínimas, são as melhores "eiróneías" da vida, algo mora aí.

domingo, 4 de maio de 2008

Deus é Gay

(Desenho: Tom da Finlândia)

Poesia: By Tom de Minas

Deus chama-se Rimbaud e se mandou pra Abissínia.
Deus chama-se Pasolini e morreu a pauladas.
Deus chama-se Andy Warhol e seu anjo, Joe Dalessandro.
Deus chama-se Tenesse e viaja num Bonde Chamado Desejo.
Deus chama-se Caio Fernando e foi pro céu cultivar Morangos Mofados.
Deus faz filme pornô e se diverte.
Deus é um tesão.
Judas é namorado de Deus e Madalena, sua puta amante!
Deus beija-me com hálito de vinho e sangue.
Deus canta em inglês e italiano e de vez em quando em Russo.
Deus é michê após as três da madrugada.
Deus dá duro pra sobreviver.
Deus é Leonardo e pinta Lisa, a Mona dissimulada.
Deus amanhece de ressaca comigo.
Deus é masoquista, lava-pés e morre crucificado.
Deus apanha como um condenado.
Deus abençoa os beijos de Davi e Jônatas.
Deus é míope, usa óculos, mas enxerga muito bem.
Deus é transformista.
Deus goza em nimbos e cirros.
Os trovões são gemidos de prazer de Deus.
Deus oferece a face para beijos e bofetadas.
Eu como do corpo de Deus.
Deus é Lês.
Deus tem cara de Sal Mineo.
Deus chama-se James Dean e morreu num acidente de automóvel.
Deus chama-se Greta garbo e quer ficar sozinho.
Deus beija de língua.
Deus convidou Leonard Bernstein para compor uma sinfonia.
Deus é um suculento Mapplethorpe de chifres.
Mas Deus não é torpe.
Deus é fashion.
Deus é drag.
Deus é king.