INTRÓITO

Subverter, Exorcizar, Viver, Beijar, Amar, Odiar, Saber, Piratear, Analisar, Mover, Parar, Rejuvenescer, Envelhecer... Tudo isso e nada. Petit Subversion é só um diário de alguém comum - de Anatólia... um fantasma.

domingo, 30 de março de 2008

Angústia Gorda (continuação, 2º parte da Angústia)


“A pessoa a que me referi surgiu de supetão entre a Rua 1º de Março e a Rua do Comércio. Eu ia dobrar a esquina, ela vinha em sentido contrário – e foi uma colisão feia. A aba do meu chapéu de palha bateu-lhe na testa, provavelmente feriu-a.
– Perdão! – Perdão!
Dei um passo para trás e distingui uma criatura enorme que também havia recuado com o choque e estava diante de mim, a mão cobrindo um dos olhos, onde tinha batido a aba do chapéu. O olho descoberto, os beiços contraídos, as rugas da cara, exprimiam espanto, raiva e dor. Encostei-me à parede, deixei-a passar. Foi um tempo insignificante, mas deu para vê-la da cabeça aos pés. Um minuto depois tinha desaparecido, a banda do rosto crispada, o olho disponível voltado para mim com um brilho de ódio. O espaço que ocupara na calçada era atravessado por outros corpos que iam e vinham, sem me despertar interesse. Mas a imagem do primeiro corpo vivia em mim. Era uma mulher gorda, amarela, mal vestida, com uma barriga monstruosa. Não sei como podia andar na rua conduzindo aquela gravidez que estava por dias. A saia, esticada na frente, levantava-se exibindo pernas sujas e inchadas. Os pés, sujos e inchados, cresciam demais nos sapatos cheios de buracos. Com uma das mãos segurava o braço de uma criança magra e pálida, com a outra escondia o olho e um pedaço de cara. Eu encostava-me à parede, resmungando atrapalhado:
- Perdão! – Perdão!
Findo o primeiro momento, aquela figura me provocara cócegas na garganta e um desejo idiota de rir. A barriga disforme resistia ao pano desbotado que tentava conte-la e empinava-se, tinha uma forma agressiva. Estava ali um cidadão que antes de nascer, ameaçava a gente. A mãe que só tinha uma banda de rosto, torcia-se por causa da pancada recebida e cravava-me um olhar duro, a metade de um olhar irritado e cheio de sofrimento.
- Perdão! – Perdão!
Subitamente as cócegas desapareceram, a vontade de rir morreu, atentei vexado naquela barriga enorme que me provocava. A roupa esgarçava-se, desbotada, fuxicada e remendada; os pés, metidos a força nos sapatos furados, pareciam bolos. Dera recuando, um puxão na criança, que se pusera a chorar. Nenhuma palavra, apenas uma interjeição de dor e raiva, grito rouco, perfeitamente selvagem. Com certeza já vinha recebendo encontrões, e aquele, demasiado rude, lhe esgotara a paciência. Andar no meio da multidão aos emboléus, com semelhante barriga! Só muita necessidade”.

ANGÚSTIA – Graciliano Ramos – 1936 (p. 141-142)

Essa angústia tinha corpo, mas era morta de desejo. Uma angústia gorda que só sabe crescer de dentro para fora como uma grávida prestes a parir. Mas morta de desjo pode ser trocada para morta de vontade ou com muito desejo. Porém angústia não deseja. Angústia mata!

É o chofre... É Angústia!


"Uma criatura dissipou as fumaças mesquinhas de vingança, uma figura que apareceu numa esquina e logo se sumiu, mas que me ficou profundamente gravada na cabeça.
Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento. Súbito uma coisa entre mil nos desperta a atenção e nos acompanha. Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim. Caminho como um cego, não poderia dizer porque me desvio para aqui e para ali. Freqüentemente não me desvio – e são choques que me deixam atordoado: o pau do andaime derruba-me o chapéu, faz-me um calombo na testa; a calçada foge-me dos pés como se tivesse encolhido de chofre; o automóvel pará bruscamente a alguns centímetros de mim, como um barulho de ferragem, um raspar violento de borracha na pedra e um berro do chofer. Entro na realidade cheio de vergonha, prometo corrigir-me. - "Perdão! Perdão!" digo às pessoas que me abalroam porque não me afastei do caminho. As pessoas vão para os seus negócios, nem se voltam, e eu me considero um sujeito mal-educado. Tenho a impressão de que estou cercado de inimigos, e como caminho devagar, noto que os outros tem demasiada pressa em pisar-me os pés e bater-me nos calcanhares. Quanto mais me vejo rodeado mais me isolo e entristeço. Quero recolher-me, afastar-me daqueles estranhos que não compreendo, ouvir o currupaco, ler, escrever. A multidão é hostil e terrível. Raramente percebo qualquer coisa que se relacione comigo: um rosto bilioso e faminto de trabalhador sem emprego, um cochicho de gente nova que deseja ir para a cama, um choro de criança perdida. Às vezes isso me perturba, tira-me o sono... penso nos namorados que se atracam junto a uma vitrina, em posição incomoda, no operário que tem fome e ameaça o patrão, na criança que chora perdida, chamando a mamãezinha. Tudo foi visto ou ouvido de relance, talvez não tenha sido visto nem ouvido bem, mas avulta quando estou só - e distingo perfeitamente a criança, o operário faminto, os namorados que desejam deitar-se. Eles me invadiram por assim dizer violentamente. Não fiz nenhum esforço para observar o que se passava na multidão, ia de cabeça baixa, dando encontrões a torto e a direito nos transeuntes. De repente um grito, uma palavra amarga, um suspiro – e algumas figuras se criaram, foram bulir comigo na cama".

ANGÚSTIA - Graciliano Ramos, 1936 - (p. 140-141)

- O que farei contigo Angústia? Preciso encontrar uma fobia, e então, parar você? Mas como posso te chamar por um pronome pessoal se nem corpo tem?! Como se lida com o que não se sabe? Angústia é coisa indeterminada. E aquilo que não tem forma, desmancha a gente. A angústia está em todos os cantos. O mundo terá cada vez mais angústia e mais gente que não sabe de nada. Da Angústia nada sabemos. Ela é uma senhora sem rosto, sem desenho, sem desejo e castrada.

domingo, 23 de março de 2008

CLI CHE


Para expressar meus sentimentos de revolta e dessacralizar aqueles sentimentos passionais. Isso me fere, mas quero sair, mesmo, em farrapos das feridas. O conteúdo não combina com o blog, mas combina comigo neste momento. O conteúdo é meu mesmo, dentro e fora, o resto é cli che......

Eclipse da lua

Tenho por companheira a lua eclipsada. Um dia meu coração também esteve em eclipse. Houve uma sombra e algo ofuscou seu brilho, quem esteve atrás não podemos revelar – é muito sombrio. Mas creio que tenha sido lindo também, porque sabemos que há beleza numa tragédia – o trágico é belo! Mas não quero chamar o passado, aquilo que foi numa noite só e muito só depois também. São fantasias e elas, como bem sei, são muito assíduas. Deixo a magnitude da lua reinar sozinha. Embora seja inevitável não pensar, então te exorcizo com os versos de Pessoa:

“Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive”.

(Ser grande – Fernando Pessoa)

EU DESEJO, LOGO “EXSISTO”

Curiosas reminiscências vieram-me a mente. Curiosas não, talvez prazerosas. Fantasias de um desejo que se articulou e desarmou-me. Foi numa aula de epistemologia. Lembro-me do momento detalhadamente, porém, descrevê-lo com pormenores nada significaria para o outro. É tão íntimo que provoca uma disritmia nas minhas sensações quando da lembrança e é justamente só uma sensação capaz de tantos arroubos. Bem, mas posso contar os fatos materiais que me fizeram introspecta e que me deslancharam a desejos inomináveis e mais, inconfessáveis: “Primeiro uma voz pausada que se completou com uma mão – mão delicada ao extremo. Mão que segurava uma lapiseira Faber-Castel 0.5 preta com ponta prateada – lapiseira profissional. Mas a mão... ah... perfeita levantada no ar e entre os dedos deslizava sensualmente aquela lapiseira.”
Desejei ser o objeto de tuas escrituras, desejei ser as letras e as palavras do livro de Quinet que tua voz pronunciava. Desejei nem sei o que, alias, sei tudo, mas não conto nada. Lembro-me perfeitamente de ti, porque te fotografei com minhas retinas e até hoje não consegui revelar-te ainda. Que mulher impossível!
Outra coisa, juro que daquela aula só estudei você, nada mais lembro. Mas eu exsisti naquele momento, logo, estive lá.

domingo, 9 de março de 2008

As Amazonas da Grécia Clássica:


Andei pesquisando na net sobre as Amazonas e encontrei alguns textos interessantes, bem, não há grandes novidades, vou postar para ficar o registro, que é de meu interesse, talvez, mais por vaidade mesmo. O texto não é meu, só um pequeno resumo; e a fonte, infelizmente, esqueci de anotar, que a autora ou autor perdoe-me.

Sabe-se que as Amazonas se radicaram na ilha de Lesbos, pátria de Safo – a maior poetisa da Grécia clássica (séc. VII e VI a.C.), em Lemnos e na Samotrácia, mais a Norte. Segundo a mitologia grega, as Amazonas eram filhas do deus Ares (deus da guerra, filho de Zeus) e da ninfa Harmonia (ligada ao culto dos deuses de Samotrácia). A mitologia destas mulheres diferentes vem da proto-história da Grécia. As Amazonas seriam originárias da Trácia ou das costas meridionais do Mar Negro (Cáucaso) e fixaram-se de início na Capadócia (hoje território turco) habitando as margens do Rio Termodonte. (No séc. XVII, Rubens pintou dois vigorosos quadros onde representa as lutas das Amazonas contra Teseu, precisamente sobre este rio). As Amazonas ter-se-iam apoderado de Éfeso, onde fundaram o mais antigo templo à deusa Ártemis, deusa esta conotada com o amor entre mulheres. Teriam fundado também a cidade de Mitilene, na Ilha de Lesbos. Há uma revista belga, de lésbicas com o nome de Pentesileia.
Um dos encontros mais contados das Amazonas foi com os Argonautas que chegaram à Ilha de Lemnos. Foram bem recebidos, a ponto de ali permanecerem um ano, quase esquecendo a sua missão que era a demanda do «Velo de Ouro».

UMA ETIMOLOGIA CONTROVERSA

Segundo os Gregos, as Amazonas para melhor manejarem o arco, as flechas e as lanças, comprimiriam, queimariam ou cortariam, na puberdade, o seio direito. Daí a origem do nome a (prefixo de negação) + mazós = peito (em grego), o que significa mulheres sem peito. Esta etimologia tem sido aceite sem contestação, não se percebe bem como. Como mulher o bom senso diz-me que nenhuma mulher queimaria ou reduziria, o seu órgão mais delicado e mais erótico fosse por que motivo fosse. Além do mais há bem pouco tempo Pierre Devambez publicou no Lexicon Iconographicum Mythologie Classicae, 819 espécimes de representações onde nunca as Amazonas aparecem só com um seio. O historiador Andre Tevet falou das Amazonas do Brasil, e também ele se recusou a aceitar que sacrificassem o seio direito, sem perigo de doença ou morte.
As mais antigas representações das Amazonas aparecem-nos em terracota e datam do séc. VII a.C. Depois são inúmeras nos vasos gregos(vasos áticos se figuras negras). Datam do provável encontro entre Aquiles e Pentesileia de 530-520 a.C. Há referências a mais de 60 nomes de Amazonas.
As Amazonas são na generalidade, representadas como mulheres bem constituídas, elegantes, usando a meia túnica, apertada na cintura, com um seio a descoberto e o outro sugerido, por baixo de vestes leves. Na mão têm o arco e às costas a aljava onde transportavam as setas. Também aparecem representadas com um machado de dois gumes em vez do arco.
Os escultores e pintores imortalizaram-nas e o mais célebre conjunto escultórico é o friso do mausoléu de Halicarnasso onde são perpetuadas lutando contra Hércules.

O tema Amazonas parece inesgotável.

Em 1997, a revista New Scientist publicou um artigo da investigadora Jeannine Davis-Kimball que refere a descoberta na Rússia, de várias sepulturas de mulheres. A identificação destas mulheres como sendo Amazonas foi feita a partir das armas com que estavam sepultadas e de ferimentos causados pelo uso de armas como pequenos punhais e espadas com que estavam enterradas.
Hoje o mito está desaparecer para dar origem a uma teoria da sua verdadeira existência. Na Lesbia Magazine de Janeiro de 1999 lemos que nas margens do Rio Dom se encontraram montículos funerários, com 2400 anos, onde estavam 21 túmulos de mulheres enterradas com as suas armas. E recentes descobertas na Hungria e China vieram enriquecer a teoria da existência real das Amazonas.
Amazonas da Grécia, das Américas, da Ásia, da África, da Europa: foram ou não uma realidade? O antropólogo brasileiro Darci Ribeiro (1922-1997) afirmou:

«Um povo-mulher contando só com elas, sem homens próprios, se servindo de estrangeiros como reprodutores é plausível e até praticável. Um povo só de machos é uma utopia selvagem».

sexta-feira, 7 de março de 2008

Orishas - Mujer

Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
En penumbra vive ese preciado ser
por no poder decir,
soltar su voz al viento,
tratar de resistir
sin perder el aliento,
sin parar ni un momento.
Siglos trabajando, dando amor,
la veces no reir sin lugar en el tiempo
donde queremos ir,
los machos del universo
escribamos ya otro verso.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Ven echate pa' acá
soy como un tren vola'o a cada la'o, como un toro
sofoca'o.
Y hoy al darme cuenta y ver
donde han dejado tus tuyos derechos directo al hecho.
Abusos sexuales,
explotación de edades,
corrupciones sociales,
criminales,
como Mariana Grajales
está fundida aquí la historia
pero una victoria no se ha logrado.
Hay que seguir con fuerza y que todos luchen por lo
amado,
reivindicando a la mujer progreso,
aunque se que, que pa' lograrlo hay un gran trecho.
Te digo de hecho, cuando lágrimas tú llorabas, mamá
calmaba pecho.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Me resguardo en el lápiz, respiro el espíritu
se siente happy,
nada personality.
Transa, realzo a ti mujer
creadora de razas,
maltrato físico, castigo duro al que avasalla.
Woman no stop, la batalla
no está ganada.
Resta mucho por andar en esta ganga,
juntos la guerra estará triunfada.
All do you want
respect, no stress.
Hoy por mi serás premiada
y sober continuaremos la batalla,
toda esta mierda se acabará.
Tu posición ya respetada,
altos niveles, ya está apoyada.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Mujer te canto este himno
traigo la pura verdad,
incierto y crudo destino,
mi canto contigo está.
Mujer te canto este himno,
incierto y crudo destino...

domingo, 2 de março de 2008

Perdas e Ganhos:

Imagem: "As Máscaras do Medo" (bem sugestivo para o texto)

Falava a pouco com uma amiga sobre ser feliz. Bem, penso coisas a respeito da felicidade e da dor. Porque não sentir e aproveitar saborosamente nossas dores?! Quero sofrer bastante para dizer depois o quanto fui feliz. Coisa contraditória, aparentemente. Mas a felicidade me parece coisa tão fútil, não, na verdade, para mim, felicidade combina com alienação. Explicar as "coisas" que nos fazem sofrer nos faz sofrer mais, esta é a lógica. Então, concluo que a dor é mais saborosa, porque eu sei da dor, eu sei o porque – e saber o porque me deixa feliz, mesmo com dor. Eu pago para não me alienar, até me prostituiria para não me alienar, mas penso que prostituída seria submissa e conseqüentemente alienada. Bem, isso é mais uma ironia. Eu quero sofrer, eu quero rir, quero chorar, mas quero saber do mundo - saber que sofro, que o mundo sofre, que as pessoas sofrem, que as pessoas me fazem sofrer e que eu faço as pessoas sofrem. Parece cruel, mas é lógico que tudo isso existe e está mais na cara do que nariz. Ver tudo isso é sentir um calafrio angustiante e depois, quem sabe, ser um pouco feliz....

Para toda dor haverá um ganho, para toda felicidade haverá uma perda. Perdas e ganhos nos dão movimentos. Durante toda nossa constituição de sujeitos, de homens e mulheres vamos perdendo partes e ganhando partes, abandonando e aceitando e para o resto de nossas vidas vamos lidando assim, porém, sempre nos sentindo vazios. E é justamente a falta que produz esse dinamismo na vida – falta que nos leva a doer, enlutar, mas viver.

Enfim, nem sei mais, ao certo, o que falava, sim.... falava de saber, doer, feliz, alienada... que coisa... Perguntas, questionamentos são formas de ultrapassar certas barreiras. Mas, na vida (claro, da morte não sabemos), podemos nos deparar com certas respostas que são barreiras intransponíveis. Aceitar – a palavra é A C E I T A R. Eu quero perder e quero ganhar e aceito que o meu vazio é o vazio do outro e vice-versa. Eu amo essa coisa, essa teia – perfeita teia. O trágico é belo, acho que já falei isso e se não falei, com certeza, vou repetir isso muitas vezes.

As Mulheres turcas:


Embora vários anos tenham se passado desde a declaração oficial na eliminação de discriminação contra mulheres pelos Nações Unidas e embora o ano de 1975 tenha sido oficialmente declarado como o ano internacional das mulheres, nós não podemos dizer que no ano de 2003 os problemas econômicos, educacionais, familiares e sociais das mulheres foram resolvidos em países desenvolvidos e em desenvolvimento.
A história registrada na península de Anatolia nos leva ao segundo milenio antes de Cristo. As lápides antigas encontradas trazem inscrições que nos informam do estado social e matrimonial das mulheres assim como aspectos de suas vidas diárias e direitos legais. Estas amostras de história indicam que as mulheres desfrutaram de uma alta posição social. Elas não se escondiam atrás de véus, nem se mantinham longe de certas tarefas feitas pelos homens. Elas estavam em companhia constante dos seus maridos ou parentes em suas casas, tendas, vagões ou no dorso dos cavalos. Direitos e responsabilidades eram compartilhados e as mulheres representaram juntamente com os homens a integridade tribal e autoridade.
Durante os primeiros séculos do Islã, começando do século setimo depois de Cristo, as mulheres ainda tinham direitos iguais aos dos homens. Maomé - o profeta, montou a cavalo juntamente com sua esposa Hatice nos campos de batalha. Ela era a consultora fiel e sábia ao profeta. Fadima - a filha do profeta, desfrutou da mesma igualdade com o seu marido Ali, o qual era um dos discípulos do profeta e se tornou o quarto califa do Islã.
Durante o Império Seljucas as mulheres tinham os mesmos direitos dos homens. Vários monumentos Seljucas que ainda existem na Anatólia contém nomes de mulheres. Esses monumentos foram erguidos pelas próprias mulheres ou pela comunidade Seljucas em sua memória.
Com o Islã e a permissão da poligamia, os direitos das mulheres mudaram. Leis religiosas abriram espaço para oportunistas degradarem os direitos das mulheres. Enquanto as mulheres das cidades grandes podiam ser vistas nas ruas caminhando somente com seu marido, a concepção do comportamento entre as mulheres nômades da Anatólia era bastante diferente. A mulher nômade não estava sofrendo da fé mal interpretada do Islã mas estava ajudando o seu marido nos campos, criando ovelhas, gado, cultivando, etc. Antes de Ataturk e de suas reformas, o primeiro movimento para recuperar o direito social e educacional das mulheres começou depois da reforma otomana que aconteceu em 1839 com a declaração de "Gulhaney-i Hatti Humayun" que traduzido literalmente significa "O credo real de Gulhane". Esta declaração apontou a modernização do Império e foi promovida pelo Vizir Principal K. Resit Pasa. A emancipação das mulheres era notícias entre os intelectuais, incluindo mulheres escritoras e poetas. Antes disso havia uma minoria de mulheres em Istambul que tinham sido expostas a cultura ocidental e estavam insatisfeitas com os seus direitos. Estes movimentos se expandiram entre as cidades grandes da Anatólia mas quase não alcançaram as áreas rurais. Revisando os estado das mulheres na Turquia não devemos esquecer de fazer distinção entre a mulher urbana e a mulher do campo. A mulher do campo conta com 72% da população feminina.
O primeiro movimento para recuperar o direito social e educacional das mulheres começou em 1839. As escolas secundárias para meninas começaram a serem abertas. Este passo foi dado inicialmente em Istambul em 1858. Mais tarde em 1869, outras escolas foram abertas. Entre 1827 e 1895, os poetas proeminentes e escritores nunca deixaram de satirizar seus trabalhos dizendo que a noiva e o noivo nunca tinham se encontrado antes do casamento.
O período de monarquia constitucional na história Turca (1908) é cheio de guerras e derrotas, contudo este período também testemunhou uma grande vivencia intelectual. Era iniciado o movimento social a favor da monogamia, liberdade, igualdade, educação da mulher bem como um lugar melhor na sociedade. O Império Otomano se iniciou em 1299 e marcou a história durante 623 anos, tendo como termino o ano de 1922. Mulheres turcas (ou mulheres otomanas) começaram um movimento de emancipação na primeira metade do século dezenove. O movimento também incluia homens que estavam a favor da emancipação das mulheres. Naquele tempo havia uma pequena minoria de mulheres emancipadas em Istambul - a cidade que era a capital do Império otomano e tinha sido exposta a cultura ocidental e apoios a essa emancipação. A primeira revista dedicada as mulheres foi intitulada TERAKKI que quer dizer PROGRESSO. Esta revista foi publicada primeiramente em 1869. Em 1870 a primeira escola de treinamento para Mulheres era fundada. Com a segunda constituição no ano de 1908, no tempo do Sultão Abdul Hamid segundo, foram fundadas escolas secundárias para meninas e pela primeira vez a Universidade de Istambul admitiu mulheres em um departamento separado para o treinamento de professores de escolas secundárias. O ano era 1915.
Durante a Guerra dos Balcas (1912-1913) e a primeira guerra mundial (1914-1918) algumas mulheres turcas entraram para o mercado de trabalho em serviços municipais e administrativos substituindo os homens que iam para a guerra. Elas também trabalharam como voluntarias em hospitais. Elas se vestiam menos rigidamente em público e o véu que cobria suas faces ficou mais transparente. Este quadro era a realidade da elite e da classe média urbana enquanto que a maioria das mulheres das áreas rurais compartilhavam o trabalho duro do campo com os homens.
As mulheres turcas também foram muito ativas durante a Guerra da Independência Turca (1918-1923). Estas mulheres que tiveram uma participação ativa na Guerra da Independência serão sempre lembradas pela República com profundo respeito e orgulho. Várias delas ficaram famosas por seus atos de patriotismo; mas, como em toda luta nacional, essas mulheres desconhecidas contribuíram com sua parte na guerra que poderia ter falhado sem sua ajuda. Com o país em ocupação, elas ajudaram a organizar reuniões de protesto, marchas nas cidades e orações em mesquitas. Como o desenvolver da guerra, elas escolheram fazer o trabalho dos homens nos campos, cozinhar, ajudar com a munição e tratar dos feridos. Algumas destas mulheres foram soldados.
O primeiro movimento organizado revolucionário das mulheres da Anatólia aconteceu em Erzurum (situado no nordeste da Turquia). O segundo movimento de massa foi a fundação do ANADOLU KADINLARI MODAFAA-I VATAN CEMIYETI (Movimento das Mulheres da Anatolia para a Defesa Patriótica). Esta Associação fez uma reunião em Sivas em 1919 chamando todas as mulheres turcas a cooperar. Mulheres se aglomeraram para se unir a esta organização que teve apoio da Assembléia Nacional em Ankara. A associação foi muito ativa durante a guerra ajudando o movimento de resistência, fazendo contribuições em larga escala e protestando vigorosamente contra a ocupação.
Por outro lado as mulheres camponêsas da Anatolia participavam ativamente na Guerra da Independência. Elas levavam munição e balas de canhão em seus ombros para os campos de batalha e até organizaram ataques militares.
A emancipação completa das mulheres turcas aconteceu depois da proclamação da República turca em 1923. Foi Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna que apoiou a emancipação as mulheres, fazendo disso uma das metas sociais principais de seu programa que continha também reformas religiosas e legais. Ataturk transformou a Turquia em uma Democracia Ocidental. Assim, depois de muito tempo de espera, as mulheres turcas podiam realizar seu sonho com a liderança de Ataturk e seus companheiros que aprovaram leis reconhecendo princípios de cidadania igualitarias.
Nos discursos de Ataturk ele era bem claro, em 1923 ele disse: "Se nossa nação precisa de ciências e conhecimento, homens e mulheres têm que compartilha-lo igualmente. Obviamente a sociedade cria uma divisão do trabalho, e nesta divisão as mulheres devem ter seus deveres e contribuir para melhorar o bem-estar de nossa sociedade."
Antigamente nossos antepassados sabiam disso e nossa história testemunhou o zelo, as habilidades e virtudes das mulheres turcas. Talves a qualidade mais importante que elas possuiam era fazer de suas crianças bons cidadões. Nossa nação era poderosa na Ásia assim também como na Europa, e o brilho de nossa história é devido a essas influências maternais que tornavam crianças talentosas e as inspiraram com um senso de honra e coragem. Eu enfatizaria novamente que, antes das responsabilidades públicas, as mulheres têm o dever altamente importante de serem boas mães.
A aprovação do novo codigo civil em 1926 baseado no Código civil suíço era a mais importante das reformas de Ataturk que afetou profundamente o status das mulheres turcas. A lei provia igualdade de direitos perante a lei, substituia o matrimônio religioso pelo casamento civil, a poligamia passava a ser ilegal e dava também as mulheres direitos iguais em herança, tutela de crianças e divórcio. Antes deste codigo civil os homens turcos poderiam ter até quatro esposas e se divorciar à vontade sem recursos para uma ação legal. Quando as leis militares foram discutidas em um debate na Assembléia Nacional em 1927 surgiu o assunto do direito de voto entre os deputados. Os oradores se posicionaram a favor de conceder as mulheres o direito de votar e serem eleitas. Mas ainda não havia nenhum movimento para aprovar essas leis eleitorais. Quatro anos depois, em 1930 quando a opinião pública já tinha se preparado para as mudança, as leis eleitorais municipais foram aprovadas e modificadas.
Em 5 de dezembro de 1934 uma lei relativa aos direitos de eleição das mulheres foi debatida na Assembléia Nacional, esta lei foi assinada por 191 deputados. A nova legislação é muito importante na história turca e para as mulheres de Turquia porque propunha:
1. todo cidadão turco que alcançou a idade de vinte e dois anos de idade, homem ou mulher, tem o direito de votar nas eleições.
2. todo cidadão turco que tenha mais de trinta anos de idade, homem ou mulher, pode ser eleito para o parlamento.
Hoje a população masculina da Turquia compõem quase que a metade do país e está aumentando rapidamente. 53% da população vive em áreas urbanas e 47% representa a populção das áreas rurais. Nós não podemos considerar esta relação como estática pois há uma grande imigração das áreas rurais para as áreas urbanas. Embora o controle de natalidade seja uma política estatal desde 1965,somente em 1983 uma nova lei foi adotada permitindo as mulheres a fazer o controle de natalidade e a fazerem legalmente o aborto dependedo de certas condições.
Em relação a educação, de acordo com o censo de 1995, a taxa de alfabetização das mulheres era de 75% contra 89% dos homens. A taxa de alfabetização das mulheres em 1935 era somente de 9,8%, comparação notável !
Hoje as mulheres turcas tem um nível excepcionalmente alto profissional e acadêmico. As mulheres marcam sua presença nas profissões de prestigio, que geralmente são consideradas domínio de homens tal como advocacia, medicina, engenharia e arquitetura.
No dia primeiro de março de 1935, foram eleitas dezoito deputadas mulheres na Assembléia Nacional. Nos anos seguintes a 1935, um total de 102 mulheres foram eleitas no parlamento. Algumas delas foram reeleitas. A maioria destas mulheres eleitas para o Parlamento eram professoras primaria ou universitarias. O segundo maior grupo era de advogadas e o terceiro de médicas. As deputadas mulheres sempre mostraram grande interesse em todo aspecto de vida pública, mas particularmente na saúde pública, educação, e bem-estar na terceira-idade e da criança.
Uma pesquisa de 1989 mostrou que dos 30.000 membros de 30 universidades existem mulheres com cátedras, decanas e diretores de institutos. Elas trabalhavam também como presidente da universidade e membro do Conselho de Ensino superior. Estudos mostram que as mulheres não sofrem grande descriminação na vida acadêmica.
Sobre as mulheres na vida política: De acordo com os estudos das Nações Unidas datado de 1989, somente 3,5% dos ministérios em 155 países são representados por mulheres.99 destes 155 países não têm nenhuma ministra mulheres. Nas eleições de 1989 a Professora de economia Tansu Ciller foi eleita pelo parlamento como primeiro-ministra da Turquia.
Em 1985 a Turquia assinou a Convenção da ONU eliminando todas as formas de discriminação contra as mulheres.
Hoje a Turquia tem um governo com um ministerio que administra assuntos relativos as mulheres. Um centro de pesquisa sobre as mulheres e o Centro de Educação estão funcionando na Universidade de Istambul desde 1990. O principal objetivo destes centros é dar apoio a pesquisar relativa as mulheres em sua vida social, política e legal. Organizações não-governamentais de mulheres controlam a implementação das legislações relacionadas as mulheres e indicam melhorias.
Em conclusão podemos dizer que o status das mulheres na Turquia não tem uma representação homogênea. Há variações que são baseadas em localidade, nível educacional e fatores socio-econômicos. Estas diferenças são muito fortes entre as mulheres rurais e urbanas. O padrão da família patriarcal tradicional ainda é uma regra nas áreas rurais, embora a urbanização e exposição aos meios de comunicação em massa tragam mudanças. Porém devo dizer que com um crescimento econômico crescente na Turquia, as mulheres turcas trazem grande orgulho e dignidade ao longo da sua historia.
Eu desejo fechar meu artigo citando de Ataturk as seguintes linhas: "Há um caminho mais direto e seguro para seguirmos do que o que estivemos. Este caminho é ter as mulheres turcas como sócias em tudo, compartilhar nossas vidas com elas, te-las como amigas, ajudantes e colegas dentro do meio científico, espiritual, social e econômico."
Este texto fez parte da palestra "As Mulheres turcas, uma pesquisa histórica breve" amavelmente cedida por Ayse Cebesoy Sarialp da Associação de Universidades Turco-Americana e da Fundação Cultural e Educacional de Universidades dada em Istambul para os membros da IWI (International women of Istanbul - Mulheres Internacionais de Istambul).

Data: 17 de Junho de 2003


Fonte do artigo:

Fragmentos das cartas para Madalena – I.

Primeiro dia do século XXI,

O ciclo continua e a serpente vai comendo seu próprio rabo.
Livros não se escrevem sozinhos, necessitam de mãos para guiá-los. Será a ficção dependente? A realidade também é – é dependente de mim, de ti, ó Madalena. A realidade que você me faz é sórdida... de tudo que você faz, alias, do que não faz. Preciso de mágica pra te fazer real e acreditar na minha ficção. Ainda acredito que os personagens são vivos e estão prontos para viver e morrer. Embora, você saiba que o protagonista tenha morrido em 1917, mas ele voltou, “´pois é minha criação isto que vejo, sou a criatura do que vejo...” Pelos deuses estou apaixonada por você Madalena, minha cria. Não é mais minha cobaia, agora sou tua cobaia... Criador e Criatura....

C.
Com saudades de mármore!

IDÍLIO LÉSBICO: OS AMORES FEMININOS


“... O suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor se apodera de todos os meus membros e, mais lívida que a outonal folhagem, estorcendo-me nas dores da agonia, desfaleço perdida no êxtase do amor.” (Safo de Lesbos)

Velhos assuntos... novas nuances...sempre é bom retomá-los, pois há quem ainda não sabe e o quer saber, viver, sentir ‘as vias de fato’ ... De qualquer forma, esta abordagem é singular e pretende ser inspiradora... A partir deste momento faça de conta que teu olhar é o de Safo e ... deixe-se levar pela emoção...!!
Falarei dos amores femininos, de Safo, de onde surgiu o termo ‘lésbica’ e com isso, misturar um pouco de poesia, mulheres e vinho ...

Safo, a célebre “poetisa” da antiga Grécia, nasceu por volta do ano de 612, na ilha de Lesbos. De formato triangular, a ilha, situada no mar Egeu, era rival dos centros Jônios em riqueza, refinamento e gênio literário. Era tida como o verdadeiro Éden perdido entre pomares e vinhas. O vinho era tão famoso em Lesbos quanto a poesia... Nossa poetisa, uma ardente adepta do idílio lésbico, inspira o amor entre mulheres a ser chamado ‘amor Lésbico’. Portanto, o termo ‘lésbica’, vem de Lesbos, o paraíso natural de Safo.

O nome ‘Safo’ significa ‘voz cristalina’ou ‘brilhante’. Na verdade, tratava-se de uma mulher brilhante, pois seus poemas se tornaram célebres em todo o mundo. Mesmo em sua época (tempo do sexo rei – sociedade ativamente masculina) toda a Grécia erguia hosanas a Safo. Sócrates deu a ela o título de “A Bela” e Platão dedicou-lhe um epigrama: “Há quem afirme serem nove as Musas. Que erro! Pois não vêem que Safo de Lesbos é a Décima?”

“Safo era maravilhosa”, diz Estrabão, “pois em todos os tempos de que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético.” Em todo mundo grego, Safo, era tida como “a Poetisa”. Com seus dezenove anos apenas, ela começou a tomar parte na vida pública através da política e da poesia. Não era tida como um referencial de beleza: pequena de estatura e frágil de porte, seus olhos e cabelos eram mais negros do que o desejariam os gregos. Mas possuía o encanto da elegância, da delicadeza e do refinamento e um espírito brilhante. Sabe-se, pelos seus versos, que era de temperamento apaixonado e suas palavras, diz Plutarco, “vinham misturadas com chamas.” Um certo sensualismo dava corpo aos entusiasmos de seu espírito. Deveria ser uma mulher muito sedutora...

Entre exílios e retornos, poesia e vinho, Safo casou-se com um rico mercador de Andros, de quem, mais tarde, herdou toda a fortuna do esposo prematuramente falecido e do qual teve uma filha chamada Cleis. Após cinco anos de exílio voltou a Lesbos, onde se tornou a líder da sociedade e do mundo intelectual da ilha. Sedenta de atividade abrira uma escola para moças, às quais ensinava poesia, música e dança. Foi essa a primeira “escola de aperfeiçoamento” da história. Safo chamava suas discípulas não de alunas, mas de hetairai – companheiras (a palavra tomou outro significado com o tempo – amantes). Em sua viuvez apaixonou-se sucessivamente por todas as discípulas. Em um dos seus fragmentos ela diz: “O amor sacudiu-me o espírito como a ventania que passa e abala os grandes carvalhos”.

Entre seus amores encontramos uma de suas discípulas – a favorita – Átis, para quem entoou versos: “Amei-te, Átis, há muitos anos... quando minha mocidade estava ainda em flor, e tu me parecias tímida e ingênua criança”. Este amor, ao que tudo indica foi correspondido, porém, inesperadamente, Átis, aceitou as atenções de um rapaz e Safo sofreu arduamente de ciúmes e um amargor tomou conta de seu coração, quando os pais de Átis retiraram-na da escola. A separação significou uma mortificação para Safo, traduzido neste fragmento: “Nunca mais hei de rever Átis e seria bem melhor para mim se tivesse morrido.” Esta sem dúvida é a autêntica voz do amor, atingindo culminâncias de sinceridade e beleza para além do bem e do mal. Os críticos, até hoje, travam debates para decidir se os poemas sáficos seriam expressões do “amor lésbico” ou simplesmente divagações poéticas e impessoais – o que sei é que são belíssimos. Com ela, a poesia se faz carne e sangue ... brota do próprio corpo. Safo resgatou a mulher do trabalho, do lar, da sua condição de mera procriadora, único lugar que os homens lha reconheciam com legitimidade, ao lado dos escravos. Mostrou as ternuras do coração, dos quais os homens, por desatenção, estavam excluídos.

No ano de 1073 da nossa era, a poesia de Safo foi queimada publicamente pelas autoridades eclesiásticas de Constantinopla e Roma. Curiosamente em 1897 descobriram no Oxirinco, em Faio, caixões funerários feitos de papel-machè (papier-maché) para cuja fabricação haviam sido aproveitadas páginas de livros antigos; entre estas encontravam-se alguns poemas de Safo.

É impossível falar do amor lésbico sem falar de Safo e de sua poesia. Parece estar intrinsecamente ligado o fator ‘poesia’ e o ‘amor’ que as mulheres nutrem por outras mulheres. Seria então, o doce enlace de dois corpos femininos, uma poesia de natural beleza ou um agridoce pecado dos Deuses?!

O Lesbianismo (ou como quer que chamassem) também esteve presente em Roma.
Nos estabelecimentos de banhos, as mulheres se entregavam para o prazer. Conta a história, que existiam escravas especialmente treinadas no amor lésbico – as chamadas fellators. Um nome se eternizou – Bassa, a célebre lésbica romana. Há um provérbio ou ‘dito’ contemporâneo que assim descreveu Bassa: “Ousais unir duas vulvas e, através do simulacro de amor, substituir o homem ausente. Lograis um milagre tão espantoso quanto o mistério tebano: cometer adultério sem a participação do homem”. Dos prazeres romanos, o que temos, o que sabemos ... nada nos faz estranhar, assombrar, acredito, basta assistirmos ao filme Calígula, para entendermos a sede romana. Então, o amor entre as mulheres de Roma, possivelmente, não foi tão belo quanto em Lesbos ... Talvez, nem tenha sido, propriamente, amor – mas desejo... Mesmo assim, neste contexto, não cabem censuras ... todos os espaços são ocupados por Eros!!!

O providencial desfecho faço com as palavras da poetisa Safo. Na verdade, uma carta de amor:

“Muito ela (Átis) chorou ao ter de deixar-me e disse: ‘Oh, como é triste a nossa sorte! Safo, juro que se te abandono, faço-o contra minha vontade’. E eu respondi: ‘Vai e sê feliz, mas lembra-te de mim, pois sabes o quão doidamente te amo. E se vieres a esquecer-me, oh, então hei de lembrar-te o que esqueceste – a vida adorável e cheia de encanto que juntas vivemos. Pois com muitas guirlandas tecidas de violetas e perfumadas rosas adornaste, ao meu lado, tuas esvoaçantes madeixas; e muitos foram os colares feitos de mil flores com que envolveste teu formoso pescoço; e quantas vezes em meu regaço untaste teu corpo jovem e belo, com óleos raros e preciosos. E não havia monte, lugar sagrado ou regato, que juntas não visitássemos; e jamais primavera alguma encheu os bosques de doces rumores ou do melodioso canto dos rouxinóis, sem que nós estivéssemos presentes’”.

Sugestão de leitura: Literatura Grega – Donaldo Schüler.

Boa Leitura. Anatólia Akkale.

sábado, 1 de março de 2008

Desassossego...


Possuir é perder. Sentir sem possuir é guardar, porque é extrair de uma coisa a sua ausência.