INTRÓITO

Subverter, Exorcizar, Viver, Beijar, Amar, Odiar, Saber, Piratear, Analisar, Mover, Parar, Rejuvenescer, Envelhecer... Tudo isso e nada. Petit Subversion é só um diário de alguém comum - de Anatólia... um fantasma.

domingo, 22 de junho de 2008

Imagem dos olhos eu leio a tua Alma

teus olhos
entortam minha alma
verdes como as árvores,
floridos como as patas-de-vaca
e narcisistas como os eucaliptos

teus olhos grudaram nos meus
e vazaram minha alma
- vá com calma
e desgrude-os com os seios
- sei o quanto estão guardados

são teus olhos mal amados?

domingo, 8 de junho de 2008

O que é escrever? O que implica este gesto?


É estranho chamar de delicado aquilo que nos angustia. A arte, seja ela qual for, é de alguma forma, uma obra de angústia. É um processo criativo ligado ao inconsciente.

Existe um desejo que está presente em toda produção, está inclusive em nossa fala, em todos os versos possíveis. Então, escrever ou fazer arte é falar em nome do desejo movido pelas pulsões; é, sem dúvida, falar de vida e morte (princípio de prazer versus princípio de realidade).

A produção artística tem uma força (drag) que faz a simbolização e traz para a realidade a subjetividade do sujeito. É uma força voraz de significantes – uma vez instituída a linguagem, o sujeito não pára mais. A rede de associações significantes vai circulando infinitamente envolta do buraco faltoso. E não sabemos para onde isso vai nos levar.

Existe algo (que podemos dizer – um algo a mais nas escrituras)... Figuras que o sujeito oculta e revela simultaneamente – os mitos da estrutura do sujeito. A escritura não se faz por si só. Ao tomarmos a obra de algum autor, logo casamos com sua vida. Impossível tomá-la em separado.

Todos nós fazemos ficção, todos nós marcamos a vida com escrituras... A vida de qualquer sujeito daria um livro – escrever é fazer mitos e é representar esses mitos. Escrever é uma tragédia! Quem tem vivência, tem material e esse material tem um sentido. A fala é uma escritura (a escritura é uma fala) com sentido representativo que tenta dar conta do real...

Before Dawn - Swinburne:


“Ah, uma coisa vale o início,
Um fio na vida vale o ato de fiar,
Ah, doçura, uma transgressão vale o pecado
Com todo o desejo da alma;
Para te acalmar até que alguém te aquiete,
Para te beijar até que alguém te mate,
Para te nutrir até que alguém te preencha,
Lábios doces, se o amor puder preencher;

Para sentir a alma forte, debilitada
Por energias carnais, acelerada
Sob suspiros rápidos que se adensam,
Mãos macias e lábios que punem;
Lábios que nenhum amor pode cansar,
Com mãos que ardem como fogo,
Urdindo a trama do desejo
Para aprisionar a Alegria do pássaro.

Assim, seja o que for, que seja;
Pois quem vai viver e escapar disso?
Mas cuide para que nenhum homem o veja
Ou ouça sem consciência;
Para que todos que o amem e o escolham
Vejam o amor, e por isso o recusem;
Pois todos que o encontram o perdem,
Mas todos o encontram belo.”

- Algernon Charles Swinburne –

domingo, 1 de junho de 2008

Caninha Freud


PAPEL CARBONO

... Porque a lápis some antes!
Talvez seja, talvez queira ser de carvão
Carvão é leve!
Mas não me sinto leve
Me sinto pobre
E pobre parece pesado:
Não tem nada e carrega tudo!
Carrega mais! Sempre tem algo mais sobre os ombros!
As costas, o peito, a cabeça, os braços, as pernas, o coração...
Pobre cheira a carvão, a fumaça
Estou fedendo e desaprendi sentir bons aromas!
Coração de carbono, carvão...
Dor nas costas, na cabeça, pernas e braços...
E o golpe final: dor na alma!
Ébano: lata-de-coca-cola!

05/08/2003
K. Líope