INTRÓITO

Subverter, Exorcizar, Viver, Beijar, Amar, Odiar, Saber, Piratear, Analisar, Mover, Parar, Rejuvenescer, Envelhecer... Tudo isso e nada. Petit Subversion é só um diário de alguém comum - de Anatólia... um fantasma.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

SENTENÇA JUDICIAL EM 1833

VILA DE SÀO SEPÉ - RIO PARDO , RS.

O adjunto de promotor público, representando contra o chirú Manoel Duda, porque no dia 11 do mês na Província de S. Pedro, quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado chirú que estava em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito índio abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia Pires e Juvenal Alves Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.
CONSIDERO: QUE o malacara Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

QUE o dito Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Tininha, moças donzellas;

QUE Manoel Duda é um perverso perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até em homens.

CONDENO: O desviado do bons costume Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro.

Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.

Manoel Fernandes dos Santos
Juiz de Direito da Vila de São Sepé

Rio Pardo, 15 de Outubro de 1833.

Fonte: Instituto Histórico do Rio Grande do Sul.
Tchê, achei o maior barato essa sentença, tanto que resolvi postar aqui.

domingo, 7 de dezembro de 2008

sureél

Desejo by jon j. muth (sandaman)


É surreal?! (eu acho) Porém, para boa entendedora palavras loucas bastam. Não é um código, não é mensagem cifrada é, no mínimo, uma coisa louca, profunda e bem direta – na veia.


Murmuras hen? E é tudo tão simples, Ana, um azul seboso, um passar sobre, alguns tombos.
O que?
A vida, azul seboso. Tu crias um caminho de dores para ti, Ana, o coração e o UMM são ilusões, descansa.
Não posso, as coisas pulsam, tudo pulsa, há sons o tempo inteiro, tu não ouves?
Mas, são os sons da cor, teu som Ana.
Como é o meu som?
Quando caminhas pela casa me dizendo mentiras, te fazendo leve, é estridente, uniforme, o apito do homem do trem antes do trem sair, tu sabes... aos poucos te incorporas ao existir do trem e começas a ser o som nevoento das rodas, expulsas uns chiados
Senhora A, teu som do UMM, me assusta, sabes?
Depois quando te deitas e me tocas, uns graves curtos vão se fazendo, olhe, se os figos emitissem sons quando os abrimos seria esse teu som nessa hora quando me tocas
E depois?
Quando os cães raspam uma terra úmida
Sim, afundam o focinho também, aspiram
Expectativa, alguma coisa viva por ali
Alguns só raspam a terra para espojarem-se depois,
De costas
Não tu, Ana, é como se o vento, a terra, a dura cartilagem, em saliva e cheiro me tocassem, tubas, flautas
Deves ouvir... nem sonatas, nem trios, nem quartetos de cordas, só vida, palpitação. Se pudesses esquecer, Ana, teias, torções, sentir a minha mão sem o teu vivo-morte, te acaricio apenas, olha, é a mão de uma mulher, vê que simples, dedos, mornura, te acaricio apenas, e a tua pele teu corpo vai sentir a minha mão como se a água te circundasse, mas não sou eu experienciada em ti, me vês como nunca me pude ver, eu não sou essa que vivencias em ti, és Ana apenas, Ana que pode ser feliz só sendo assim tocada, não é bom? Fecha os olhos procura imaginar o vazio, o azul seboso, pequenos tombos, eu uma mulher te tocando porque te amo e porque o corpo foi feito para ser tocado, toca-me também sem essa crispação, é linda a carne, não mete o Outro nisso, não me olhes assim, o Outro ninguém sabe, Ana, Ele não te vê, nem te ouve, nunca sabe de ti, sou eu, sopro e ternura, sim claro que também avidez e sombra muitas vezes, mas é apenas uma mulher que te toca, e metemos vida, é isso Senhora A, merda, é apenas isso, agora vamos, maldita vem viver, vem ser feliz. Vamos, tira essa roupa poeirenta de passado, pega, beija, abre a boca e grita pro invisível, pra luz, pro nojo e fornicas o mundo e aspira as expectativas que nem um cão.


É meio Hilda Hilst é meio Anatólia Akkale – Misturei as coisas pra dá certo a loucura de te dizer o que sinto o que penso, o que desejo, então ficou assim...

domingo, 30 de novembro de 2008

Profundas Conjecturas Rasas

De repente aparece um louva-a-deus gigante e, logo, você acha que ele quer te comer – você fica numa angústia só. Daí a coisa fala contigo: “Oi, você sabe onde fica a loja da Daspu, qual a rua?” Ó puxa, que alívio! No mínimo você fica meio atordoado, confuso – um louva-adeus consumindo grife, bem, esse mundo tá perdido. Logo, a coisa deixou de ser coisa – ela siderou. No momento que a coisa começa a falar ela deixa de ser um monstro e passa a ser uma parte conhecida, ou reconhecida.

O eu ideal é um andrajo que você mesmo criou, assim como na história da roupa do rei.

O objeto mais valorizado na vida do camarada é a merda. Tá sempre reclamando e dizendo que a vida é uma merda, mas ele tá tão ligado à merda que toda vez que reclama, na verdade, proclama e valoriza a merda – já não pode mais viver sem ela.

Sonhar com duas garrafas de leite não significa, necessariamente, as tetas da mamãe.

O único que é feliz é o falo, basta endurecer e trazer a felicidade e, o melhor, brinca-se com ele e sem ele, esteja presente ou ausente.

Essa é velha, mas vale a pena, denominei de Pacto Perverso:
“Os alunos fazem de conta que estudam, os professores fazem de conta que dão aulas e a universidade faz de conta que forma”.

Freud diz que o amor é um engodo. Na verdade, o amor é um engordo – depois que casa engorda.

Psicanalistas são como prostitutas – vira, sempre, o objeto de algum sujeito.

domingo, 23 de novembro de 2008

Cigarro Líquido



Uma empresa holandesa desenvolveu uma bebida que está dando o que falar na Europa. Trata-se de um líquido que recria a mesma sensação de calma e relaxamento que o cigarro provoca.
Segundo a empresa, o Liquid Smoking é destinado, sobretudo, para pessoas que estão em ambientes onde o fumo é proibido.
O United Drinks and Beauty Corporation, fornecedor da bebida, espera que sua venda seja iniciada uma semana antes do Natal. No entanto, os grupos anti-tabaco já temem que a bebida venha a promover alguma toxicodependência.
A empresa, por outro lado, se defende alegando que a bebida não recebe adição de nicotina, mas sim uma potente mistura de raízes de plantas Sulafricanas, que vem sendo usada desde o século XIV pelos bosquímano (habitantes de uma tribo africana).
Outro ponto polêmico está no fato de não haver limitação de idade para comprá-la, embora os fabricantes afirmem que ela não deveria ser comercializada para menores de 15 anos.
O CEO da United Drinks declarou ao Jornal Daily Mail, que a empresa está aguardando a liberação das autoridades sanitárias para começar a distribuição do produto na Holanda.
“O produto que desenvolvemos tem propriedades semelhantes à nicotina, por isso estamos tentando ajudar as pessoas que estão proibidas de fumar. Elas poderão beber, ao invés de fumar um cigarro para saciar seu desejo.
É uma bebida relaxante, que dá uma sensação semelhante à do fumo. Inicialmente você obtém um pouco de estímulo que faz você ficar mais alerta e, em seguida, uma sensação de tranquilidade.”
Ihuu, finalmente um cigarro que dá barato. Imagina as raízes alucinógenas... será?! Dando um baratinho já tá ótimo. Curti a embalagem, o design tá bem legal. Liquid Smoking pelo menos não polui, sem fumaça, bem, a não ser que após ingerir a bebida, ela provoque algumas reações gasosas, daí, provavelmente, serão expelidas pelo, hum, sei lá. Mas a empresa não comentou se é ou não é gaseificada. Gostei quero provar. A Holanda é vanguarda em termos de substâncias, no mínimo, interessantes e provocativas.

domingo, 16 de novembro de 2008

Chicas - Quem Vai Comprar Nosso Barulho? (2006)

1. Felicidade
2. Você
3. Ter que Esperar
4. Me Deixa
5. Oração
6. Paciência
7. O que Não Sou
8. Geraldinos e Arquibaldos
9. Namorar
10. Espumas ao Vento
11. Rap do Silva
12. Volte para o Seu Lar
13. Tia Chica
14. Alô, Liberdade

Banda As Chicas: Paula Leal, Isadora Medella, Amora Pêra e Fernada Gonzaga.
*
Existem músicas que despertam todos os nossos sentidos, embalando-nos, de tal forma, que sentimos o corpo como num ato sexual, na verdade, é uma dança erótica de forças... As Chicas são capazes de fazer isso comigo e, com certeza, com muito mais gente. A sensibilidade das vozes destas moças é uma loucura, são vozes orgásticas, capazes de saciar a fome libidinal de muitas moças por aí. E se estou ou não exagerando, isso é outra história, eu gozo mesmo, só de ouvir as Chicas até vejo anjo molhado cruzando a porta do meu quarto, a chuva caindo azul néon, os quadros me olhando e todas as mulheres são lindas. Bem, eu não tomei LSD, nem estou comparando com o Pink Floyd (nada haver com o pink), mas as Chicas, além de terem ótimas vozes, as composições, especificamente neste cd, foram bem escolhidas e o instrumental é perfeito. Elas despertam fantasias e eu viajo... Enfim, virei uma admiradora. É o melhor som que surgiu nos últimos anos. As chicas me seduziram, me envolveram, oh céus, estou perdida, que barrulho gostoso... E ainda dá pra imaginar, degustar Amora e Pêra numa só fruta, poderia ser Pêramora, hum, delícia.
*
Download (caso tenha problemas no download faça o danloudi)
Danloudi (talvez esse seja o mais certeiro)
Ou ainda, se preferir, vá para o blogui do Um Que Tenha e também no blogui Música da Boa.
Chicas Site Oficial. (Compre o cd original, alíás, o nome do album é justamente, "Quem vai comprar nosso barulho?"; e põe barulho nisso...)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O AMOR SECRETO DOS SUPER-HERÓIS


Tarde da noite. Robin deitado numa confortável cama de casal, num dos quartos da mansão Wayne em Gothan City, toda decorada com Super-Heróis. Veste apenas a máscara e uma ridícula mini-cueca estampada com morcequinhos cor-de-rosa. O quarto está na penumbra, na vitrola toca “Batdance” do Prince.

De repente, fazendo o maior barulho, acendendo todas as luzes, entra Batman, abatido, roupa amassada com rasgões nos ombros, com sangue seco no nariz e canto da boca.

Robin: Santa madrugada Batman, isso são horas de chegar em casa?
Batman: Ai... não me toque! Tô morta! Ai que horror, que música mais brega que tá tocando, credo.
Robin: Santa ignorância! É “Batdance” do Prince, meu ídolo.
Batman: Credo, tira esta prostituta sudaneza daí, põe um disco da Gal, ai, eu adoro a Gal.
Robin: Você sabe que não suporto esta perua brasileira. Mas não muda de assunto. Onde você esteve sua bat-galinha? Posso apostar que estava outra vez com o Coringa. Você não pensa um pouco em mim? Me deixa aqui sozinho nessa mansão enorme e fica por aí galinhando pelas ruas de Gothan City. Bem que mamãe me disse para aceitar o convite e ir trabalhar com o Capitão América.
Batman: (coloca um disco da Gal) Você? Simplesmente ridículo todo fantasiado de bandeira, andando com aquele escudo para cima e para baixo. Coisa mais pobre! Sou mais ligada no Thor. Ele com aqueles cabelos longos, dourados, musculoso, com aquele imenso martelo cheio de poder, é a glória. Você já pensou, ele de salto alto, ficaria lindérrima.

Gal: “Aonde você vai tem uns amigos que você precisa conhecer...”

Batman: (tirando a máscara frente ao espelho) Tô um caco! Não suporto mais essa vida de combate ao crime. Queria ser amado e não ficar batendo na cara dos bofes.
Robin: Santa choradeira... E eu? Também quero ser amado. Você não pensa um pouco em mim? Também já não suporto mais ver você chegando em casa de madrugada, sujo, com sangue, um trapo velho. Isto não é vida para mim. Vou voltar para a casa da mamãe e não adianta me buscar, nem mandar flores, agora chega!
Batman: (fala olhando-se no espelho) Esses garotos prodígios... Não te esqueças que te ensinei tudo bofete, tudo, e agora vens com ofensas, não é? Que injustiça. Oh destino cruel e insano, oh vida bandida e ingrata. Eu nunca deveria ter virado homem morcego. Olhe bem para mim: não pareço um guarda-chuva velho? E ainda tenho que suportar criança me enchendo o saco. Queria viver, viver, ouviu? Ser a Mulher Maravilha, tá legal?!
Robin: Santa frescura batman, Mulher Maravilha? Você tem que ser forte, durão!
Batman: (puxando os cabelos) Mas não quero, não quero. Esse corpo só quer ser acariciado. Porque não virei uma borboleta? Uma esbelta butterfly-man, toda colorida, alegre, delicada. Eu tô morta. Pode sumir daqui se quiser, sei quando sou rejeitada.
Robin: Santa desilusão Batman. É assim que você me trata? Depois de tudo que fiz por você, seu morcegão bofe! Vou embora mesmo. Pode ficar com essa droga de bat-anel que me deu no ano passado, com este bat-vibrador de três velocidades, que, aliás, quase me matou eletrocutado, e pode ficar com esse horroroso bat-baby-doll e pode ficar com este morcego de pelúcia que te dei no nosso noivado. Pode ficar com tudo. Vou embora desta mansão sombria e escura.
Batman: (berrando) Ah é? Ah é? Tá boa, santa! Você não vai ver bat-lágrimas nos meus olhos, não mesmo. Estou cansada, cansada de você, do Comissário Gordon, de ser combatente, de tudo. Some daqui, seu ingrato.
Robin: Santa sacanagem, eu jamais esperava isso de você.

Gal: “... desta vez doeu demaaaaisss...”

Batman: E para de falar santa a toda hora, odeio ser santa. O-D-E-I-O!!! Sou uma mulher do povo, oh que vida, uma mulher jovem ainda.
Robin: Santa viadagem, mulher?
Batman: (urrando) É, mulher, mulher morcego!
Robin: (gritando) Santíssima bicha! Agora é demais, vou embora.
Batman: (berrando) Vai, o que está esperando? Some da minha vida boy-prodígio, não vai me fazer falta. Garotos como você acho aos montes no Morcegay.
Robin: Santa nojeira batman, você freqüentando o Morcegay? Que decadência!

(Entra Alfredo, o mordomo de Batman)

Alfredo: Por favor, rapazes, parem com essa gritaria, a vizinhança vai pensar o quê?
Batman: (furioso) Olha a audácia dela. Oras, conheço você desde os tempos que colecionava pôsters do Super-Man. Não vem com esse papo moralista pra cima de mim não, sua velha solteirona. Conheço seu passado, sei que ia vestida de mulher-gato no Gala-Gay, sua... sua recalcada.
Alfredo: Patrão, por favor, fale mais baixo.
Robin: Santa raiva, batman...
Batman: Saia daqui Robin e pode levar sua tia velha junto.
Alfredo: Tia velha é a pu... quer dizer, acalme-se patrãozinho. Relaxe, os vizinhos estão ouvindo.
Robin: Santa decadência Alfredo! Isso sempre acontece nas noites de lua cheia. A bicha fica impossível, histérica. Vou cair fora desta droga de mansão.
Batman: (histérica) Vai!!! Some daqui já. Alfredo, meu leque. Ai, me segura, acho que vou desmaiar.
Alfredo: Patrão, não grite assim, todo mundo vai saber que você e o batman são a mesma pessoa.
Batman: E daí? Que importa? Sou assumida, entendeu?
Robin: (chorando) Santa besteira!
Batman: Senta aonde querido?
Robin: Santa surdez, não é senta, é Santa. Alfredo, faça ele se acalmar.
Alfredo: Patrão deite aí na bat-cama e tome o seu prozak... tudo vai ficar bem...
Batman: (pulando, gritando) Mas eu não quero deitar. Eu quero ser a Gal (abraça a capa do disco) quero ser você perua-man.
Robin: Santa frustração Batman, para com isso. Olha eu não vou mais embora, fique calmo amor.
Batman: Não! Está tudo acabado, tudo. Suma da minha frente bat-ingrato e leva esta bat-tia junto, suas horrorosas, nojentas. Vida ingrata. Quero morrer... morrer. Nunca mais serei o mesmo, chega de ser Batman. Cansei de andar por aí disfarçado de macho pelas ruas de Gothan, acabou, tudo, tudo.
Robin: (abraçando Batman) Santa recaída. Vem pra cama, vem amor. Eu perdôo tudo. Deita aqui, assim.
Alfredo: A sociedade jamais nos entenderá, é a vida.
Batman: (chorando, sendo levado pra cama por Robin) O prozak bateu! Maldito Bat-Kane! Ele podia me ter transformado numa borboleta linda, toda rosa e dourada.
Robin: (deitando Batman na cama, fazendo carinhos em seus cabelos) Durma querido. Amanhã será outro dia. O He-man vem nos visitar.
Alfredo: Durma patrão, boa noite.
Batman: Vira o disco da Gal, Alfredo!

Gal: “... Amanhã será jamais...”

Robin apaga as luzes. Gal continua cantando solitária. A cena acaba na manhã seguinte com o Coringa invadindo o quarto da mansão, surpreendendo o bat-casal na mais caliente intimidade.


Obra-produto de total imaginação de J. R. Scóz com arranjos de A. Akkale.(Publicado no Tom Zine nº 20 Ano 3 – 1999)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Três Beijos

A Pulsão

Cartaz do Filme "Quando a Noite Cai" 1995

Pintura de Colette Calascione [ two birds sold for a kiss ] 1995

Bem, não sei ao certo porque escolhi estas três imagens, mas algo existe, sempre existe. Passei o fim de semana com as imagens na cabeça... depois saberemos ao certo o que de simbólico me trazem, me dizem, se é que querem, realmente, dizer algo. São três beijos, o último um tanto bizarro... porque será? Quem sabe aquela pulsão de te beijar, ah... louca fantasia de te beijar, porém, ao mesmo tempo de não te beijar... Não sei responder, não sei beijar, não quero te beijar, não quero nem saber se tua saliva tem ou não tem bactérias, não quero saber se teu beijo é doce, agridoce, molhado, profundo, raso... não quero saber de nada. Fujo do beijo. Já fui! Não não e não...

Virginia Woolf & Vita Sackville-West

"E Vita vem almoçar amanhã, o que será muito divertido e agradável.
Minhas relações com ela me divertem: tão ardente em janeiro - agora, como será? Também gosto da sua presença e beleza. Estarei apaixonada por ela? Mas o que é o amor? O fato de ela estar "apaixonada" por mim (deve ser assim entre aspas) me excita, e lisonjeia, e interessa. O que é esse "amor"? Ah, e depois ela gratifica minha eterna curiosidade: quem ela viu, o que fez - pois não tenho alta opinião sobre a poesia dela. "
(1924?) - Diário de Virginia.

- Virginia Woolf uma Biografia - 1882-1941 - Quentin Bell

sábado, 1 de novembro de 2008

Deus existe?

Quando acendo uma lâmpada geralmente surge um louva-a-deus.

sábado, 11 de outubro de 2008

Conversa de fila de Banco


Conversa de fila de banco, semana passada, entre dois homens, lá pela casa dos 70 anos:
- soube que ficou viúvo...
- pois é...
- precisa encontrar outra mulher, ficar sozinho não é fácil...
- eu sei, mas hoje em dia está difícil encontrar alguma que queira fazer todo o serviço...
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Quem se preocupa com a sexualidade dos outros, tem sérios problemas com a sua própria sexualidade.
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Esse papo foi-me descrito pela Mara* do Blog Fazendo Estrelas***** .
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Interessante observar as bocas do mundo, sai cada coisa. Neste blog tem 3 postagens de Conversa: Conversa de Cemitério; Conversa de Rua e agora Conversa de Fila de Banco. Tá bem bacana e engraçado. Curti a idéia.
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PS: Ainda sobre a conversa da fila, fiquei pensando, "fazer todo o serviço". Que serviço seria este, sexual ou doméstico? O doméstico na minha opinião!
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Abraços.

A Minha Eleita: a moça do rádio portátil

Estou um pouco afastada do blog nos últimos meses, bem, muito trabalho, estudo e envolvimento com as eleições. Fiz um trabalho bem bacana de coordenação, onde pude aplicar alguns conceitos da psicologia da comunicação nestas eleições – juntamente com a nossa equipe – criatividade a milhão. Foi uma experiência maravilhosa, e, claro bem stressante, mas tudo compensou e estou inteira e pronta para outra batalha. Nossa, conheci muitas e... muitas pessoas – de todos os tipos e tamanhos.... interessantes e deslumbrantes... hummm... sujeitos com vontade – vontade de ver um mundo melhor. Conheci a Cláudia, nossa... que sujeita... Cláudia é publicitária e trabalhou com a gente na acessória de comunicação. O mais bacana dessa moça era o seu rádio portátil, onde ela acompanhava tudo o que acontecia na cidade. O rádio era algo assim... estilo neo contemporâneo com design anos 60, verdão com tira de braço. Era muito engraçado, acho que combinava com a Cláudia. Claro, claro, minha maior vontade não é descrever o objeto, mas a mulher, mas estou poupando minha sordidez e tentando ser, como diria, comportadinha. O melhor era ver a carinha da Cláudia ouvindo as maquiavélicas notícias sobre os candidatos. Ela se indignava de como falavam mal do nosso candidato e eu tentava dizer a ela que isso era natural e tal e usava termos amenos e intelectualóides... Até que ela se indignou comigo e disse (cabe ressaltar a sua linda expressão de rosto); virou-se para mim, franziu a testa e retrucou-me: “Olha só Ana, para de fingir comigo, tu sabe a verdade, então fala o que é verdade, ta muito nhe nhe nhem, manda eles tomarem no cú mesmo, tu sabe quem eles são, pra mim você pode falar claramente.” Nem preciso dizer que me apaixonei, né! Bem, a história que estou contando nem história propriamente é, mas precisava falar da moça do rádio portátil e de resto, quem sabe como a história será feita, sei lá, alguma coisa sempre se escreve e, principalmente, se inscreve em nós.... Ela é minha Eleita!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Conversa de rua

Ouvidos moucos, bocas malditas. Não! Ouvidos malditos bocas tortas. Sai de casa e cruzei a esquina. Foram 20 passos para a sinfonia da ignorância e intolerância.
- Má como tem essas tal de lésbicas ultimamente!
- hum.
- Que coisa feia, eu tenho nojo disso, essas lesma!
- Isso é falta de vergonha e.... bla bla bla blabla....
Perdi o resto da sinfonia, mais 5 passos e a conversa se dissipou dos meus ouvidos.
O mais interessante é constatar que isso é puro desejo. Nojo é desejo!
Sei lá, ninguém merece.....

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Maria Bethânia - Recital na Boite Barroco (1968)


01 - Marginália II
02 - Carinhoso - Se Todos Fossem Iguais A Você
03 - Último Desejo
04 - Camisa Listrada
05 - Marina
06 - O Que Tinha De Ser
07 - Molambo
08 - Lama
09 - Pano Legal - Café Society
10 - Pé Da Roseira
11 - Ele Falava Nisso Todo Dia
12 - Baby
13 - Maria, Maria
ou se preferir vá para o Blogui Solidown
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O Recital na Boite Barroco flagra o diamante vocal de Bethânia em estado bruto, mas já com a força teatral que se consolidaria nos anos 70. Esse, se não me engano, é o primeiro trabalho ao vivo da Abelha Rainha.
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Esse disco tem uma das melhores capas que já vi - linda! (o psicodelismo e o tropicalismo, além, claro, do misticismo e magia aliados de Bethânia) pois foi, Luiz Arthur Torres Jasmin que desenhou a capa; ele nasce a 11 de outubro de 1940, em Salvador - Bahia. Ele é pintor, desenhista, retratista, programador visual, ilustrador, ator, produtor, escritor, gourmet. Esse cara foi premiadíssimo em vários trabalhos, inclusive com uma capa de disco para a cantora Maysa no ano de 1958, Alemanha. Por incrível que pareça não encontrei muita coisa do cara na net, só a biografia e tal, mas nada de imagens.
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É isso, espero que tenham curtido essas pequenas curiosidades e pérolas. E viva Bethânia!

domingo, 7 de setembro de 2008

Virginia Woolf & Katherine Mansfield

Um pouco mais do depoimento de Virgínia Woolf sobre Katherine Mansfield.
"... Eu deveria ter necessidade de fazer uma longa descrição dela antes de chegar ao meu estranho equilíbrio de interesse, divertimento e contrariedade. A verdade, suponho, é que uma das condições, não expressa mas entendida, de nossa amizade, é precisamente que ela se baseava quase toda em areias movediças. Foi marcada por curiosos episódios e interrupções; meses a fio eu nada ouvia dela; depois nos encontramos de novo sobre uma aparência de chão sólido. Fomos íntimas, talvez mais intensas do que sinceras; mas de qualquer forma, para mim, o relacionamento sempre foi interessante e mesclado com um elemento pessoal agradável, suficiente para deixar alguém enternecido - se é essa a palavra - e também curioso."
Virginia escrevera isso em seu diário, em fevereiro de 1919.
Pelo resto da vida de Katherine, e bem depois de sua morte, Virginia a consideraria com sentimentos agradavelmente compostos de simpatia e ciúme. Seu último encontro foi em agosto de 1920. Virginia partiu de Rodmell para Londres a fim de se despedir, pois Katherine ia novamente para o exterior. Virginia queria conferir o quanto realmente lamentava perdê-la; e chegou a conclusão de que lamentava bastante.
(VIRGINIA WOOLF UMA BIOGRAFIA 1882-1941, QUENTIN BELL.)

Imperscrutável

Virgínia Woolf escreveu o seguinte sobre Katherine Mansfield:

"Essa mulher imperscrutável continua imperscrutável - agrada-me dizer; nem desculpas nem o sentimento de que fossem necessárias. (...) Imediatamente largou a pena e, como se nos tivéssemos separado há 10 minutos, mergulhou... (...) encontro em Katherine o que não encontro em outras mulheres inteligentes - um sentido de naturalidade e interesse, que suponho, se deve ao fato de ela se interessar de maneira tão genuína, embora tão diversa da minha, pela nossa preciosa arte." (VIRGINIA WOOLF - UMA BIOGRAFIA 1882-1941, QUENTIN BELL)

Eu me apaixonei pela biografia da Virginia Woolf, bem, isso é lógico, mas o que encontrei ainda não sei ao certo como expressar. E o que me marcou muito foi as poucas, porém determinantes, passagens sobre Virginia e Katherine. E a palavra IMPERSCRUTÁVEL, foi meu maior achado. Virginia a definiu assim, e, com certeza, outra definição não caberia.

IMPERSCRUTÁVEL: que não se pode perscrutar; examinar ou pesquisar; insondável; impenetrável.

sábado, 23 de agosto de 2008

O Inconsciente freudiano e a Fotografia

“Uma analogia grosseira, mas não inadequada, a esta suposta relação da atividade consciente com a inconsciente poderia ser traçada com o campo da fotografia comum: a primeira etapa da fotografia é o ‘negativo’; toda imagem fotográfica tem de passar pelo processo negativo e alguns desses negativos, que se saíram bem no exame, são admitidos ao ‘processo positivo’, que termina pelo retrato”.
Uma Nota Sobre o Inconsciente na Psicanálise – Freud, Vol. XII - Edição Eletrônica.

Chegue-se a um psicanalista experiente e pergunte-se de chofre o que é o inconsciente. Verão como ele vai gaguejar e hesitar e precisar de tempo para responder, mas precisará começar falando. Eu já estou escrevendo...para vocês.
No texto “Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise”, Freud salienta a existência de pensamentos que são ao mesmo tempo latentes e eficientes, são ao mesmo tempo não advertidos e ativos. Então Freud afirma como novidade que esses pensamentos são inconscientes. Acreditem que no momento dessa afirmação (início do séxulo XX) isso era uma novidade e tanto. E que novidade o inconsciente freudiano ainda pode ser? Essa é a pergunta mais essencial que eu tento responder para vocês. Corre-se o risco de descobrir que já não há novidade nenhuma nisso, ou seja, que já não haja muito interesse nisso. Como seria?
No próprio texto Freud lança mão da comparação com a fotografia para fazer uma analogia de como é o inconsciente. Assim como a fotografia tem antes um negativo o pensamento é antes inconsciente. Como fica isso numa cultura de tecnologia da máquina digital, quando a fotografia não tem mais um negativo e é somente informação digital e computadorizada? É claro que nessa circunstância o funcionamento psíquico começa a ser pensado como se o aparelho psíquico fosse uma máquina e a enfermidade como se fosse um desajuste, uma desregulação, uma pretensa disfunção no relacionamento dessa máquina com o ambiente, o que solicita a intervenção reguladora. Assim é o inconsciente cognitivo e comportamental, ele é o que corresponde a esse modelo de tecnologia computadorizada.
Nesse tempo ainda pode se trabalhar com o inconsciente freudiano? Vejam o tamanho do problema que eu quero resolver com vocês interrogando que espécie de tecnologia corresponde ao inconsciente freudiano.
Bem, uma pista ainda me surge. Se a teoria freudiana do narcisismo e lacaniana do estádio do espelho ainda se mantêm de pé, a subjetividade humana ainda se vale do real do negativo e do inconsciente. Como eu já disse: o inconsciente precisa ser contado para existir. É que nem a história das fadinhas (tentem com "o" em vez do primeiro "a"): quando ninguém acreditar mais nelas elas não existem mais.
Cheguem num psicanalista velho e sábio e perguntem: "O que é a pulsão?". Verão como ele vai gaguejar e hesitar e começar a falar sem muita certeza. A pulsão? É um conceito fundamental e é uma espécie de força que tende a procurar por satisfação atendendo ao princípio do prazer e mais ainda ao princípio do gozo...

sábado, 12 de julho de 2008

Meu desejo ovelha negra repartido como os pães


“Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo”. -Clarice Lispector-

Quando Psiqué saía do corpo, ela voava até o Hades e dialogava com Odisseu. Psiqué era uma imagem. Para despertar Psiqué, bastava uma pequena gota de sangue, e até mesmo, o cheiro do sangue era suficiente. Psiqué era imortal – quando aparentava estar morta, algo sempre a despertava. Assim funciona o desejo – desejos são imortais; não há como fugir do desejo; e mesmo que adormecido, basta uma gota de perfume, uma imagem para que ressurja e nos faça navegar. Os desejos são, também, como cartas de navegação que nos levam a lugar nenhum, mas que nos dão um norte. São jarros vazios que permitem a forma. Quem não tem desejo deseja desejar – quem não deseja está morto. E se o desejo parar, também é uma morte – uma morte psíquica.
A REPARTIÇÃO DOS PÃES de Clarice Lispector é um pedido de satisfação de um desejo. Os convivas do almoço não tinham fome, mas ao verem a comida, ela apareceu. Parece que não queriam estar naquele local, estavam resignados a algo insosso, sem sabor de desejo. Era um momento amorfo, convencional. Talvez, o convívio entre aquelas pessoas mascarava o que realmente sentiam – desejavam. Juntos repartiam o pão, em silêncio. Talvez comungassem do mesmo desejo... Havia uma cumplicidade maior... O prazer de um era entendido pelo outro. Eles não queriam estar lá, mas estavam. Por contingência, comodismo, educação, por um desprazer velado, que também é desejo de satisfação. Fora dali, existia Deus nas acácias, mas em nenhum momento houve coragem de pegar o trem e partir em direção a elas. Ou seja, era um desejo proibido. Lembremos que desejos não podem nunca ser satisfeitos, no máximo, realizados. A plena satisfação seria insuportável, uma morte.
Falar do desejo é como cair num buraco. E o meu buraco é como um poço sem fundo. Eu queria falar de todos, abraçar cada cheiro que, em algum momento me despertou. Cada livro, cada música, cada poema... Amo e desprezo todos. Neste momento só posso eleger um...
Quero avisar logo que o meu desejo também é proibido.
Para permanecer próximo à Clarice, o eleito é Caio Fernando Abreu. Bem que eu quis me afastar-me da mulher e esquecê-la, mas tornou-se impossível. Pois quem me apresentou a ela foi justamente o Caio Fernando – ele é, sem dúvida, um discípulo, algo de muito íntimo une os dois, talvez uma devoção à dor, uma identificação de ser e de lugar no mundo.
Fará exatos dez anos que ganhei OVELHAS NEGRAS, no dia do meu aniversário. E assim se seguiu, a cada aniversário ganhei um livro – a safra rendeu-me quatro obras de Caio Fernando. Claro que os amigos se cansaram, me dei conta, hoje, que nunca retribuí... Sinto-me uma ingrata. Só espero receber e pouco me dôo.
Voltemos a falar do Caio Fernando, que está vinculado com a história de uma amiga muito próxima – a amiga Angelina. Foi ela que me apresentou a este autor. O pai de Angelina morreu num estranho e insolúvel assassinato na década de oitenta, quando ela tinha apenas sete anos – fato que me marcou muitíssimo. Nos idos da adolescência, uma tia dela comentou que encontrou nas tralhas do porão um velho livro, que pertencera a seu pai – O OVO APUNHALADO de Caio Fernando Abreu. Oh, puxa! Surpresa para Angelina. O pai lia um escritor “maluco”! E foi assim que, em nosso circulo de amigos, dividíamos os loucos e confissionais contos deste escritor. Nos emocionávamos com tamanha vivência e lirismo das histórias. Emociono-me ao lembrar destes fatos e momentos tão únicos – hoje, especialmente, nesta noite fria de neblina, reporto-me para o vinho que bebíamos, as gostosas gargalhadas nas madrugas geladas e nas projeções que fazíamos para o futuro. Um desejo de voltar no tempo e resgatar cada vivência. Não sou mais uma adolescente e queria voltar a ser... Mas, voltemos ao livro que ganhei, antes que meus olhos se encharquem... OVELHAS NEGRAS... O título já é uma luva – que me caiu tão bem... Eu era (e sou) uma ovelha negra! Escolhi um conto deste livro chamado “Anotações sobre um amor urbano”. Escolhi-o porquê foi escrito no ano em que nasci – 1977. Ele é como um diário íntimo, parece fragmentos de cartas, coisa assim, bem à moda do eu. Abre o conto uma citação da Hilda Hilst “Te amo como as begônias tarântulas amam seus congêneres...”.
A história-confissão é de um amor que foge ao alcance, de um amor que não se tem coragem de revelar e os amantes se enredam, num jogo... A história pode ser o amor de um só. O texto é de uma prosa poética fulminante, me fazendo pensar nos amores platônicos e inconfessáveis que, um dia partiram meu jovem coração. Ah, me sinto piegas falando disso, mas não posso fugir. O Caio Fernando expressa, sem dizer diretamente, como é amar do mesmo, ou seja, querer um igual. O difícil momento de revelar seu amor homoerótico de uma forma natural... assim como falar dos carros que rodam, buzinam e a cidade faz barulho e você lá... Do lado do seu enamorado, mas que a qualquer momento pode fugir, fazendo barulho, se ouvir a tua confissão... “Eu to a fim de ti”. É um naufrágio. O preconceito nos joga pra fora do barco, nos devasta, nos afasta. É sim! Quantos amores deixamos de provar, com medo da rejeição – não qualquer rejeição, mas aquela da cara de nojo, da “anormalidade”.
Bem, é esse Caio que me levantou. As escrituras desse autor permeiam minha vida. Um dia, quando pensava em ser escritora, quis ser como ele. Aliás, ele é meu guru de escrituras. Eu desisti do tolo sonho de ser escritora, (mais uma vez piegas!), porém os restos que me restam do desejo de escrever, são sem dúvida, inspirados em Caio Fernando Abreu.

Há uma impossibilidade de falar do desejo, sem prender-me a descrições de fatos. Eis minhas escrituras permeadas de desejo. Aquilo que a palavra não consegue dar conta, mas que em cada significante respira, respira, respira o inexpressável de minha vida primária – minhas demandas de amor, as quais só consigo reconhecer quando implico vivências do outro.

domingo, 6 de julho de 2008

Como é mesmo o nome daquele refrigerante preto...?

(Capa do livro de Mark Pendergrast - Dios Patria y Coca-Cola)
Quero contar a história de um certo refrigerante. Deixo claro que não estou fazendo apologia, marketing ou qualquer coisa pró, como também, não estou aqui para falar mal... não farei julgamentos morais. Somente, quem sabe, uma pitada de sarcasmo, de ironia socrática... Os fragmentos que exponho não são meus. Só estou reproduzindo-os para ilustrar meu texto... sou um mero canal!

Todos conhecem Coca-Cola. Nenhuma bebida industrializada é tão consumida no mundo. Ela existe em pelo menos 160 dos 168 países da terra, e o Brasil é o terceiro maior consumidor do refrigerante, sendo vencido, apenas, pelos Estados Unidos e pelo México.”

O inventor da Coca-Cola foi um químico americano chamado John Styh Pemberton. Em 1886 ele concebeu a fórmula que era apenas mais uma entre as beberagens da época. Era na realidade um elixir que prometia curar várias mazelas do corpo e da alma, como depressões e indisposições, fadiga, má digestão; revigorar nervos extenuados, curar dores de cabeça, insônia, nevralgia, histeria e melancolia, tudo isso por cinco cents o copo.

A primeira versão do produto a French Wine Coca (Vinho Francês de Coca) tinha como base folhas de coca (ou mesmo cocaína) e uma fruta chamada noz de cola, um grão vermelho com alto teor de cafeína. Não tinha um sabor agradável. Então, misturado a muitos outros ingredientes e água chegaram ao xarope de cor escura, a nossa Coca-Cola. Acidentalmente, alguém misturou o xarope com água gaseificada e assim surgiu o refrigerante.

Foi Frank Robinson, sócio e contador de Pemberton, que inventou o nome do produto e com sua caligrafia floreada desenhou o logotipo, que é utilizado até hoje. O primeiro rótulo apresentava os seguintes dizeres: “deliciosa, refrescante, estimulante e revigorante!”

Pemberton vendeu sua fórmula a outro farmacêutico em Atlanta, Asa Griggs Candler, que instalou fábricas do xarope em outras cidades. Em 1919 a empresa foi vendida ao empresário Ernest Eoodruff. Enfim, escolheu-se a dinâmica cor vermelha para representar o produto.

Como refrigerante o produto não podia mais conter nenhum teor de cocaína; assim, as folhas da droga foram retiradas da composição e hoje a empresa utiliza-se de folhas de coca descocainizadas apenas para efeito aromatizante. Esse produto é conseguido através de indústrias farmacêuticas que utilizam a coca para fabricação de remédios.

Para impedir a falsificação do produto e a concorrência dos impostores a empresa resolveu criar um modelo particular de garrafa. Para tanto, a Coca-Cola adotou a idéia da Root Glass Company, de Indiana. Seu diretor, Alex Samuelson apostou na idéia de um design capaz de ser diretamente relacionado aos ingredientes que davam nome a bebida: coca e noz de cola. Porém a inspiração, erroneamente, foi a fruta do cacau. E assim nasceu a embalagem bojuda, com uma cintura, lembrando um corpo de mulher.

Em 1923, Robert Woordruff, presidente da companhia, adotou uma política comercial que projetasse a bebida internacionalmente. Tanto que, na Segunda Guerra Mundial, a empresa conseguiu autorização especial para importar açúcar – artigo racionado na época. Isso, por via de Woordruff, que era amigo do general Dwght D. Eisenhouwer (nomezinho esquisito), comandante das Forças Armadas dos Estados Unidos. Em troca, todo soldado americano, onde quer que estivesse, poderia comprar uma garrafa de Coca-Cola por 5 cents, pelo tempo que durasse a guerra. A estratégia foi um sucesso, pois superou a concorrência (que não tinha açúcar) e além do mais, instalou 64 fábricas no restante do mundo.

Se hoje é sabido que a Coca-Cola não contém cocaína pura, não se sabe exatamente o que ela contém. Esse segredo é a alma do negócio. Tanto se acredita nisso, que em 1977 seus fabricantes preferiram renunciar ao mercado, representado pelos 800 milhões de habitantes da Índia, a revelar a fórmula da bebida, como queria o governo Hindu, para permitir a entrada da empresa em seu país. Atualmente a industria (totalmente brasileira) de refrigerantes Dolly mantém batalha judicial com a Coca-Cola. A coisa é quente... A empresa Dolly espalhou por São Paulo e Rio de Janeiro outdoors com as seguintes perguntas: Coca-Cola: contém folhas de coca? É ilegal? A Coca-Cola está acima da lei? Tem até acusação de sonegação-fiscal-Brasília-deputados-partidos-políticos-etc...

Mas afinal, o que é Coca-Cola? É de limão, laranja, guaraná? A resposta dada ao consumidor é a seguinte: Coca-Cola é isso aí! Ou seja, não há explicação alguma...!

“Você traz a coca-cola eu tomo, você bota a mesa eu como, eu como eu como, você (...)” _ Canta Chico Buarque _

2008
-1886
_______
0122 Hipoteticamente esta seria a idade da coca-cola, desde a sua invenção. (caramba!)

*Este texto foi escrito a partir de um trabalho de Cristina Munhão Gonçalves, Mestre em comunicação e Letras pela Universidade Mackenzie - SP.

ASTOR PIAZZOLLA - 1974 Libertango

1. Libertango
2. Meditango
3. Undertango
4. Adios nonino
5. Violentango
6. Novitango
7. Amelitango
8. Tristango

Baixe aqui
Ou de uma banda no Blogui do Eu Ovo e escolha o disco pra baixar.

sábado, 5 de julho de 2008

Palavra Esquisita - Telma Scherer

“odeio”, palavra esquisita
esquece o sentido
logo após dita

“onda”, palavra bonita
enche a boca de calma
mesmo na noite aflita

“ovo”, palavra redonda
engulo-a devagar
como fosse uma onda

Telma Scherer

LAPSO COCACÓLICO

“É impossível o lapso cocacólico. Quando alguém diria: como é mesmo o nome daquele refrigerante... aquele preto, parecido com a Pepsi? Nunca! Seria imperdoável. Você pode esquecer a luz acessa, a idade do seu pai, o que era mesmo... Tudo é aceitável, mas o lapso cocacólico está em extinção.”
(Michel Melamed – Revista Trip, cd CEP 20000)

Lei da Semeadura!

Deus disse à crente:
– Você não é digna de entrar no meu Reino!
Um nervosismo histérico tomou conta da irmã que se debulhava em lágrimas:
– Mas por que, senhor meu Deus, eu não sou digna de tua morada???
E Deus disse:
– Porque você dizima sobre teu salário líquido e deves dizimar do salário bruto!
– Mas... e o INSS senhor... mas...
– Calada! Deus não tem nada haver com o INSS...

*Esta história é baseada em fatos reais, qualquer semelhança não é mera realidade. Isso pode acontecer numa rua perto de você, cole seus ouvidos no mundo.

domingo, 22 de junho de 2008

Imagem dos olhos eu leio a tua Alma

teus olhos
entortam minha alma
verdes como as árvores,
floridos como as patas-de-vaca
e narcisistas como os eucaliptos

teus olhos grudaram nos meus
e vazaram minha alma
- vá com calma
e desgrude-os com os seios
- sei o quanto estão guardados

são teus olhos mal amados?

domingo, 8 de junho de 2008

O que é escrever? O que implica este gesto?


É estranho chamar de delicado aquilo que nos angustia. A arte, seja ela qual for, é de alguma forma, uma obra de angústia. É um processo criativo ligado ao inconsciente.

Existe um desejo que está presente em toda produção, está inclusive em nossa fala, em todos os versos possíveis. Então, escrever ou fazer arte é falar em nome do desejo movido pelas pulsões; é, sem dúvida, falar de vida e morte (princípio de prazer versus princípio de realidade).

A produção artística tem uma força (drag) que faz a simbolização e traz para a realidade a subjetividade do sujeito. É uma força voraz de significantes – uma vez instituída a linguagem, o sujeito não pára mais. A rede de associações significantes vai circulando infinitamente envolta do buraco faltoso. E não sabemos para onde isso vai nos levar.

Existe algo (que podemos dizer – um algo a mais nas escrituras)... Figuras que o sujeito oculta e revela simultaneamente – os mitos da estrutura do sujeito. A escritura não se faz por si só. Ao tomarmos a obra de algum autor, logo casamos com sua vida. Impossível tomá-la em separado.

Todos nós fazemos ficção, todos nós marcamos a vida com escrituras... A vida de qualquer sujeito daria um livro – escrever é fazer mitos e é representar esses mitos. Escrever é uma tragédia! Quem tem vivência, tem material e esse material tem um sentido. A fala é uma escritura (a escritura é uma fala) com sentido representativo que tenta dar conta do real...

Before Dawn - Swinburne:


“Ah, uma coisa vale o início,
Um fio na vida vale o ato de fiar,
Ah, doçura, uma transgressão vale o pecado
Com todo o desejo da alma;
Para te acalmar até que alguém te aquiete,
Para te beijar até que alguém te mate,
Para te nutrir até que alguém te preencha,
Lábios doces, se o amor puder preencher;

Para sentir a alma forte, debilitada
Por energias carnais, acelerada
Sob suspiros rápidos que se adensam,
Mãos macias e lábios que punem;
Lábios que nenhum amor pode cansar,
Com mãos que ardem como fogo,
Urdindo a trama do desejo
Para aprisionar a Alegria do pássaro.

Assim, seja o que for, que seja;
Pois quem vai viver e escapar disso?
Mas cuide para que nenhum homem o veja
Ou ouça sem consciência;
Para que todos que o amem e o escolham
Vejam o amor, e por isso o recusem;
Pois todos que o encontram o perdem,
Mas todos o encontram belo.”

- Algernon Charles Swinburne –

domingo, 1 de junho de 2008

Caninha Freud


PAPEL CARBONO

... Porque a lápis some antes!
Talvez seja, talvez queira ser de carvão
Carvão é leve!
Mas não me sinto leve
Me sinto pobre
E pobre parece pesado:
Não tem nada e carrega tudo!
Carrega mais! Sempre tem algo mais sobre os ombros!
As costas, o peito, a cabeça, os braços, as pernas, o coração...
Pobre cheira a carvão, a fumaça
Estou fedendo e desaprendi sentir bons aromas!
Coração de carbono, carvão...
Dor nas costas, na cabeça, pernas e braços...
E o golpe final: dor na alma!
Ébano: lata-de-coca-cola!

05/08/2003
K. Líope

domingo, 25 de maio de 2008

Cocacolismo

(Desenho em nanquim de Nêreo Ceratti)

“(...) O registro que em breve vai ter que começar é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Aliás foi ele quem patrocinou o último terremoto em Guatemala. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo – porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente”.
(Clarice Lispector – A Hora da Estrela)

“Como é mesmo o nome daquele refrigerante preto? Você pode esquecer tudo, o nome do seu amigo, o dia do aniversário de sua mãe, o dia em que você nasceu. Mas o nome daquele refrigerante preto você não esquece!”

domingo, 18 de maio de 2008

O Olho da Fada Sininho


Fotografia da memória

Maçãs empilhadas
Encontraram uma boca
Maçãs digeridas.


Gotas de orvalho
Vem o sol
Seca a lágrima.

Gota de orvalho
Ponta de choro
Logo vem o sol.

Horizonte vermelho
Logo o escuro
Morcegos guinchando.

A terra vomita
Lava quente
Ninguém tem nojo.

sábado, 17 de maio de 2008

Entrevista Visceral de Clarice Lispector


É só pegar no Youtube (assistir) uma das raras entrevistas de Clarice Lispector. Clarice decidiu que deveria deixar um testemunho, foi até a Tv Cultura do RJ decidida a falar, porque encasquetou que iria morrer, o que realmente aconteceu um mês depois, em Dezembro de 1977. Clarice pegou de surpresa a equipe de tv, (Ela fez a equipe assinar um documento que só permitiria a exibição pública da entrevista após sua morte) tanto que podemos observar o modo “solto” ou mesmo a “saia justa” de como ocorreu a entrevista; o plano da câmera só focando em Clarice, em nenhum momento mostra o entrevistador. Penso que nem podemos chamar de entrevista é, sem dúvida, um depoimento de dentro da alma – é visceral. Nesta época, final de 1977, Clarice estava lutando contra um câncer de ovário que se espalhou pelo corpo – um câncer galopante, tomava constantes injeções de morfina para acalmar a dor – dor que não cessava. Não sabemos qual a maior dor – a da alma ou do corpo? Esse depoimento me assombrou... nos deixa em silêncio... Clarice parecia acomodada num divã fazendo o que melhor sabia – literatura com alma. Esse depoimento foi ao ar três dias depois da morte de Clarice lispector.
Vale a pena assistir, todas as partes, 1, 2, 3, 4 e os outros vídeos também.

domingo, 11 de maio de 2008

O que temos na cabeça?

.... Ainda sobre o que temos na cabeça...
Seriam galos?
Roda-moinhos?
ou seriam mesmo
ninhos de passarinho?
Eu tenho um grilo.
Já falei?

sábado, 10 de maio de 2008

Cabeça de Passarinho


Seria esse o nosso buraco faltoso?
Onde os pássaros fazem ninhos...
Bem que ouço assobios quando escuto as cabeças que me cercam. (E as cabeças que passam)
Uns fazem melodias,
Outros fazem sons horripilantes.
Gosto daqueles que tem coruja...
Ihhh, mas coruja faz toca,
Então o buraco é mais embaixo.
Eu não tenho pássaro (acho)
Eu tenho um grilo na cabeça.

RICARDO SILVESTRIN - Poesia


Neste fim de semana tive o prazer de participar de um evento promovido pelo SESC/RS – Encontros Literários. O prazer maior foi ouvir a fala de Ricardo Silvestrin, poeta gaúcho. Muito bacana – Perpassamos pela literatura até o haicai. O poeta Silvestrin é uma mistura de erudito com Rock end roll – Sutil direto e agridoce. Silvestrin é inspirador no mínimo... Que mais dizer, virei fã. Ele fala de poesia como um escultor. “Literatura não é política, nem história, nem ideologia – literatura é arte com a palavra! E arte é uma experiência ritual.” (Obrigado ao Larry pelo convite, sem isso não teria desfrutado).


Uma concepção leiga do amor.
Tesão
é febre,
a fúria do corpo,
pedagogia da expressão.
Previsões para hoje:
aventuras,
ofertas,
andar po aí,
abraçar e acariciar todas as pessoas.
Vida íntima:
onde termina avagina?
o que mantém úmida a vagina?
Uma relação madura e equilibrada,
o último homem,
perfil de um gigante.
Orgasmo da mulher:
a estupenda noite de catch-as-catch-can.
Frases.
Cigarro.
Sexualidade:
o único pecado que existe.
Aqui pra vocês, ó!

- Ricardo Silvestrin -


banco da praça
os seios
e os receios da namorada
...................
instante do passarinho
fui olhar
fiquei sozinho

terça-feira, 6 de maio de 2008

Conversa de Cemitério

- Oi vizinho, como vai???
- Ohhh, em excelente estado de putrefação!!!

_ Mário Quintana _

As Máximas mínimas, são as melhores "eiróneías" da vida, algo mora aí.

domingo, 4 de maio de 2008

Deus é Gay

(Desenho: Tom da Finlândia)

Poesia: By Tom de Minas

Deus chama-se Rimbaud e se mandou pra Abissínia.
Deus chama-se Pasolini e morreu a pauladas.
Deus chama-se Andy Warhol e seu anjo, Joe Dalessandro.
Deus chama-se Tenesse e viaja num Bonde Chamado Desejo.
Deus chama-se Caio Fernando e foi pro céu cultivar Morangos Mofados.
Deus faz filme pornô e se diverte.
Deus é um tesão.
Judas é namorado de Deus e Madalena, sua puta amante!
Deus beija-me com hálito de vinho e sangue.
Deus canta em inglês e italiano e de vez em quando em Russo.
Deus é michê após as três da madrugada.
Deus dá duro pra sobreviver.
Deus é Leonardo e pinta Lisa, a Mona dissimulada.
Deus amanhece de ressaca comigo.
Deus é masoquista, lava-pés e morre crucificado.
Deus apanha como um condenado.
Deus abençoa os beijos de Davi e Jônatas.
Deus é míope, usa óculos, mas enxerga muito bem.
Deus é transformista.
Deus goza em nimbos e cirros.
Os trovões são gemidos de prazer de Deus.
Deus oferece a face para beijos e bofetadas.
Eu como do corpo de Deus.
Deus é Lês.
Deus tem cara de Sal Mineo.
Deus chama-se James Dean e morreu num acidente de automóvel.
Deus chama-se Greta garbo e quer ficar sozinho.
Deus beija de língua.
Deus convidou Leonard Bernstein para compor uma sinfonia.
Deus é um suculento Mapplethorpe de chifres.
Mas Deus não é torpe.
Deus é fashion.
Deus é drag.
Deus é king.

domingo, 27 de abril de 2008

Nick Cave - Live In Brazil para baixar:

Nick Cave - Live In Brazil, 1989
(134.45 MB)

http://www.filesend.net/download.php?f=2695b8f471e25ac367a6de6afb2c40ea

Do Blog: Lágrima Psicodélica:
http://lagrimapsicodelica.blogspot.com/2008/04/nick-cave-live-in-brazil.html
Post Atualizado.

Ou só a Lágrima:
http://lagrimapsicodelica.blogspot.com/

ASAS DO DESEJO À POESIA DE REINER MARIA RILKE

(Cena que abre o filme - Anjo Damiel)

Os anjos catalisadores do filme “Asas do Desejo” de Wim Wenders renunciam a imortalidade para provar uma xícara de café e um cigarro. Os anjos ouvem os pensamentos dos humanos, perpassam pelo cotidiano catalisando as dores e emoções que eles não são capazes de sentir; vêem o mundo com seus olhares sem cores, sentem as coisas e os objetos sem sentir; são capazes de roubar uma materialidade para tentar provocar alguma sensação. A dimensão de dois mundos (mundo angelical espectro e mundo humano paixões-desejos) é confrontada com a realidade da dor – a dor da 2º Guerra Mundial. A dimensão do real vem a tona com as imagens da Alemanha dividida pela guerra. O mundo espectral e onírico dos anjos é de um mundo sem angústias embora lamentem a eternidade e aparentemente invejem os humanos, mas não se angustiam como os humanos no seu cotidiano banal, em suas pobres vidas mortais. Asas do desejo nos oferece uma colagem de teorias filosóficas, uma espécie de síntese da humanidade – vai de Rilke (As Elegias de Duíno), Homero, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre, Walter Benjamin... as pinturas de klimt ao roteirista do filme (Peter Handke) ...
Em Kierkegaar encontramos algo mais ou menos assim: A angústia é a diferença que nos faz humanos. A angústia é humana! É isso que nos diferencia dos anjos e dos animais.
Em Walter Benjamin: O que é o anjo do futuro? Ele está com a cara voltada para o passado e não consegue prever o futuro – a memória já é fragmentada, a história é fragmentada.

Asas do Desejo prevalece como uma grande obra prima do cinema; é sempre bom rever. É um filme carregado de poesia, encanto, dor e angústia. As musas de Homero são outras, a morte nos angustia, mas ainda assim podemos degustar um café e nos pulverizarmos interiormente com a fumaça de um cigarro que carrega nossas angustia em 5 minutos de fumaça. A Angústia nos faz humanos – humanos que não conseguem vislumbrar um futuro, tudo é incerto, nossa memória se fragmentou, apesar da oralidade fluir,porém só a partir de uma leitura singular... Só o sonho ainda pode nos transportar para a realização de nossos desejos – desejos de anjos, desejos de humanos, mas nunca esquecer que a angústia vem de nossos desejos mais profundos e desconhecidos.

O filme de Wim Wenders tem profunda reflexão sobre a subjetividade, sobre a humanidade, sobre a contemporaneidade, sobre o futuro e principalmente sobre as paixões humanas que por último constroem as primeiras. É muito para minha pobre associação livre do momento. Nada termina aqui. O filme ainda possui fantástica fotografia da dupla de velhinhos: Henri Alekan e Louis Cochet além de uma gótica e ótima trilha sonora composta por Jürgen Knieper, seguida por acordes de rock end roll com as bandas: Crime & The City Solution a tocar Six Bells Chime. E ainda Nick Cave ao lado dos Bad Seeds a tocarem a mítica From Her to Eternety. Uma das seqüências mais lembradas pelos admiradores do filme é aquela em que o Anjo Damiel, ao seguir a sua amada Marion pelas escurecidas ruas de Berlin, acaba entrando em um clube underground e presencia a sensacional performance de uma banda tocando uma melancólica canção de melodia sombriamente bela: "Six Bells Chime".

Um poema de Reiner Maria Rilke:

O Anjo
*
Com um mover da fronte ele descarta
tudo o que obriga, tudo o que coarta,
pois em seu coração, quando ela o adentra,
a eterna Vinda os círculos concentra.
O céu com muitas formas Ihe aparece
e cada qual demanda: vem, conhece -.
Não dês às suas mãos ligeiras nem
um só fardo; pois ele, à noite, vem
à tua casa conferir teu peso,
cheio de ira, e com a mão mais dura,
como se fosses sua criatura,
te arranca do teu molde com desprezo.

****************************************
Um Fragmento das Elegias de Duíno:

PRIMEIRA ELEGIA
*
Quem se eu gritasse, me ouviria pois entre as ordens
Dos anjos? E dado mesmo que me tomasse
Um deles de repente em seu coração, eu sucumbiria
Ante sua existência mais forte. Pois o belo não é
Senão o início do terrível, que já a custo suportamos,
E o admiramos tanto porque ele tranqüilamente desdenha
Destruir-nos. Cada anjo é terrível. E assim me contenho pois, e reprimo o apelo
*
De obscuro soluço. Ah! A quem podemos
Recorrer então? Nem aos anjos nem aos homens,
E os animais sagazes logo percebem
Que não estamos muito seguros
No mundo interpretado. Resta-nos talvez
Alguma árvore na encosta que diariamente
Possamos rever. Resta-nos a rua de ontem
E a mimada fidelidade de um hábito,
Que se compraz conosco e assim fica e não nos abandona.
Ó e a noite, a noite, quando o vento cheio dos espaços
Do mundo desgasta-nos o rosto -, para quem ela não é /sempre a desejada,
Levemente decepcionante, que para o solitário coração
Se impõe penosamente. Ela é mais leve para os amantes?
Ah! Eles escondem apenas um com o outro a própria sorte.
Não o sabes ainda? Atira dos braços o vazio
Para os espaços que respiramos; talvez que os pássaros
Sintam o ar mais vasto num vôo mais íntimo.
*
Sim, as primaveras precisavam de ti.Muitas estrelas
Esperavam que tu as percebesses. Do passado
Erguia-se uma vaga aproximando-se, ou
Ao passares sob uma janela aberta,
Um violino se entregava. Tudo isso era missão.
Mas a levaste ao fim? Não estavas sempre
Distraído pela espera, como se tudo te ansiasse
A bem amada? (onde queres abrigá-la
Então, se os grandes e estranhos pensamentos entram
E saem em ti e muitas vezes ficam pela noite.)
Se a nostalgia te dominar, porém, cantas as amantes; muito
Ainda falta para ser bastante imortal seu celebrado sentimento.
Aquelas que tu quase invejaste, as desprezadas, que tu
Achaste muito mais amorosas que as apaziguadas.
Começa Sempre de novo o louvor jamais acessível;
Pensa: o herói se conserva, mesmo a queda lhe foi
Apenas um pretexto para ser : o seu derradeiro nascimento.
As amantes, porém, a natureza exausta as toma
Novamente em si, como se não houvesse duas vezes forças para realizá-las. Já pensaste pois em Gaspara Stampa
O bastante para que alguma jovem,
A quem o amante abandonou, diante do elevado exemplo
Dessa apaixonada, sinta o desejo de tornar-se como ela?
Essas velhíssimas dores afinal não se devem tornar
Mais fecundas para nós? Não é tempo de nos libertarmos,
Amando, do objeto amado e a ele tremendo resistirmos
Como a flecha suporta à corda, para, concentrando-se no salto
Ser mais do que ela mesma? Pois parada não há em /parte alguma.
*
Vozes, vozes. Escuta, coração como outrora somente os santos escutavam: até que o gigantesco apelo levantava-os do chão;
mas eles continuavam ajoelhados,
inabaláveis, sem desviarem a atenção: eles assim escutavam.
Não que tu pudesses suportar a voz de Deus, de modo algum.
Mas escuta o sopro, a incessante mensagem que nasce do silêncio. Daqueles jovens mortos sobe agora um murmúrio em direção /a ti.
Onde quer que penetraste, nas igrejas
De Roma ou de Nápoles, seu destino não falou a ti, /tranqüilamente?
Ou uma augusta inscrição não se impôs a ti
Como recentemente a lousa em Santa Maria Formosa.
Que eles querem de mim? Lentamente devo dissipar
A aparência de injustiça que às vezes dificulta um pouco
O puro movimento de seus espíritos.
*
Certo, é estranho não habitar mais terra,
Não mais praticar hábitos ainda mal adquiridos,
Às rosas e outras coisas especialmente cheias de promessas
Não dar sentido do futuro humano;
O que se era, entre mãos infinitamente cheias de medo
Não ser mais, e até o próprio nome
Deixar de lado como um brinquedo quebrado.
Estranho, não desejar mais os desejos. Estranho,
Ver tudo o que se encadeava esvoaçar solto
No espaço. E estar morto é penoso
E cheio de recuperações, até que lentamente se divise
Um pouco da eternidade. - Mas os vivos
Cometem todos o erro de muito profundamente distinguir.
Os anjos (dizem) não saberiam muitas vezes
Se caminham entre vivos ou mortos. A correnteza eterna
Arrebata através de ambos os reinos todas as idades
Sempre consigo e seu rumor as sobrepuja em ambos.
*
Finalmente não precisam mais de nós os que partiram cedo,
Perde-se docemente o hábito do que é terrestre, como o /seio materno
suavemente se deixa, ao crescer.
Mas nós que de tão grandes mistérios precisamos, para quem do luto tantas vezes o abençoado progresso se origina - : poderíamos passar /sem eles?
É vã a lenda de que outrora, lamentando Linos,
A primeira música ousando atravessou o árido letargo,
Que então no sobressaltado espaço, do qual um quase /divino adolescente escapou de súbito e para sempre, o vazio entrou naquela vibração que agora nos arrebata e consola e ajuda?
*
- Reiner Maria Rilke -

Traduções do poeta paraense Paulo Plínio Abreu

domingo, 20 de abril de 2008

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O que é ser artista? O que é escrever? (De Violet Trefusis para Vita Sackville-West)

(Escrivaninha de Vita)

25 de janeiro de 1918

Era uma vez, uma artista e uma mulher, e a artista e a mulher eram uma só pessoa. No decorrer do tempo, a mulher se casou; ela se casou com o príncipe de seus sonhos, e uma alegria irreversível e imutável desceu sobre ela. A artista foi temporariamente esquecida: envolvida em um confortável torpor, a artista dormiu, e a mulher exultou em sua condição de mulher e na felicidade que podia proporcionar...
Certo dia a artista despertou para encontrar a câmara de seu sono encolhida e distorcida, as janelas se tornaram muito pequenas, ela mal podia enxergar fora delas, os brocados estavam esmaecidos; os adamascados e cetins pendiam como fantasmas... Debilitada pelo pânico ela correu para sua janela; viu uma mulher brincando em um gramado macio com uma criança sorridente. Naquele momento, elas se encontraram; confrontaram-se uma com a outra, a mulher serena, amorosa, imperturbável, e a artista desafiadora, ciumenta, irritada diante da resistência. E a artista manteve-se firme e escarneceu da mulher. Pobre artista: Cigana desgrenhada e irresponsável, era mais do que ela podia suportar – Agora a mulher pertencia de coração e alma a seu marido e a seus filhos, mas a artista não pertencia a ninguém, ou antes à humanidade. Imaginária, ela divaga pela terra, hoje aqui, amanhã ali – o mundo é apunhalado pelas flores inúteis de sua proteção...
A combinação da mulher e da artista produziu uma espécie de mentalidade tão rara quanto sublime; um artista, seja na pintura, na música ou na literatura, deve necessariamente pertencer a ambos os sexos, seu julgamento é bissexual, deve ser completamente impessoal, e ele deve ser capaz de se colocar com impunidade no lugar de cada sexo.
O resultado deste equilíbrio intelectual foi tornar você de repente consciente da sabedoria de séculos nos olhos desta mulher; uma mulher de perfeita verdade, límpida, clara, intocada pela instabilidade do homem – você compreendeu que ela tinha em si algo de uma verdade eterna, de uma beleza eterna, adiante, muito adiante do alcance de nossa débil compreensão... Algo tão velho quanto as montanhas, tão velho quanto o mundo, porém eternamente jovem, eternamente inatingível... Algo divino, olímpico, vertiginoso, que vê até mesmo aquilo que é menos conhecido para si do plano da compreensão e da comiseração superlativas. A lira sonora que é concebida a um dentre mil silenciosos – o artista, sim! O artista que deve ser nutrido diariamente com novas intuições, novas condições, novos amores e novos ódios para se manter cantando para a humanidade! O artista – o supremo luxo que os deuses lançam ao mundo quando se percebe que ele deve se expressar ou morrer!
E a mulher talvez sorria quando ler isso, e seus amigos lhe dirão que esposa e mãe ideal ela é, o que é verdade, mas a artista se retrai horrorizada com a imputação de presunção que essas palavras não conseguem ocultar –
Deus sabe que é esteticamente incorreto o artista ser contido pela domesticidade. Pégaso é arriado a uma charrete, Marisa toca harmônio. Fecho meus olhos, e pareço ver, apesar dos atributos semelhantes aos de Demétrio com os quais a mulher é sem dúvida dotada, não a mulher, mas a artista galgando os cumes das montanhas, silenciosa, inspirada e só.

(Esta carta não foi assinada por Violet)

- As Cartas de Amor de Violet Trefusis para Vita Sackville-West-
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Para fazer uma análise deste conteúdo é preciso entender alguns fatos, fazer uma reconstituição dos passos cotidianos da vida de Violet e Vita, ao menos, neste período, nesta data, específica, da carta. Os ocorridos deste meio tempo é que ditam o conteúdo manifesto desta carta tão deslumbrante, genial. O que Violet fez foi uma análise ímpar... Para este mero trabalho sem propósito algum (nem por isso irresponsável), também usaremos de nossas possíveis associações – associações livre. Como não temos nenhuma pretensão, o que vai ditar o rumo desta analise são meras associações de coisas apaixonantes que podem se ligar, assim como podem se separar sem nunca terem combinado, como uma tórrida paixão.
Violet tinha 22 anos quando escreveu esta carta, estava, nesta época, fazendo aulas de arte, o que sem dúvida influenciou neste discorrido, além de ter trabalhado numa cantina de soltados em 1917(vendo os horrores da guerra) e sentindo-se muito solitária. Durante os anos de 1914 e 1918 pouco se encontraram. Neste período transcorria a 1º Guerra Mundial. Época contrariamente de felicidade familiar para Vita. Em 1914 nascia seu primeiro filho com Harold Nicolson. E em 1917 nasceu o segundo filho, Nigel (que aparece dando depoimento na biografia de Virginia Woolf no filme “As Horas”). Neste tempo, Vita parecia se dedicar ao lar feliz, o que provavelmente fazia Violet corroer-se de ciúme, de dor e distanciamento. A paixão queimava em fogo lente, esperando o momento oportuno para entrar em erupção. Isso ocorreu em 13 de abril de 1918, quando Violet foi visitar Vita sozinha, no seu novo endereço em Long Barn (mas isso é outra história).
Voltemos à análise do conteúdo textual. O que Violet quer dizer com a frase “era uma vez uma artista e uma mulher, e a artista e a mulher eram uma só pessoa.?” E ela continua dizendo que a mulher se casou e a artista foi temporariamente esquecida.... Dá muito na cara, não tem mistério o que Violet manda como mensagem para Vita. Ora, Vita queria ser uma artista, estava escrevendo um romance. Mas como ser artista e dona de casa, ou no melhor dos termos um mulher submissa aos filhos e marido, quando desejava ser a toda poderosa Vita Sackville-West – uma mulherzinha, para ser chula. Era isso que Vita desejava para si mesma? Violet conhecia muito bem os temperamentos de seu “Julian”, e queria abrir os olhos da outra, ou melhor, estava chamando Vita para pensar, para refletir sobre sua posição e antes de tudo, chamando Vita, novamente, para a tórrida paixão. Tem um fundo provocativo, com certeza.
Faremos uma referência a vida de Sylvia Plath, que não tem relação nenhuma com o romance nem vida social de Violet e Vita, mas responde a questão de ser uma artista e ser uma mãe de família, diria assim. O que nos interessa é somente a produção literária. A obra de Sylvia Plath não faz o menor sentido sem a vida dela. É preciso casar vida e obra. Sylvia só escrevia quando tomada de grande sofrimento e enquanto feliz e casada não produziu nada. Quando lemos uma poesia desta autora sem saber da autoria, logo, pensamos, quem escreveu só pode ser um amador, ou alguém desequilibrada, quase um psicótico, pelas palavras desconexas (mas não quero entrar no mérito agora, deixemos a posteriori). Mas pensando neste ponto, nos dirigimos a questão do que é escrever? Parece mesmo ser preciso uma boa dose de sofrimento psíquico para fazer uma grande produção. “O artista deve ser nutrido diariamente com novas intuições, novas condições, novos amores e novos ódios para se manter cantando para a humanidade” – escreveu Violet.
Vita estava sendo contida pela domesticidade do lar, da família, e enquanto fosse levada pela vida feliz nada que preste artisticamente seria produzido. Ao que tudo indica Violet lhe chama a atenção, “vá viver outras coisas mulher, entregue-se à bissexualidade, à paixão e venha para os meus braços, pois só assim poderá encontrar o veio artístico dentro de você”. Violet não disse isso com estas palavras; fez melhor, produziu uma pequena tese sobre o assunto. Fico conjecturando, que a grande inspiração e o veio artístico de Vita é o resultado de sua convivência e romance com Violet – o grande alimento, o maná da vida “desregrada”, “imoral”, “irracional”, ao contrário da vida de luxo, tédio, requinte e nobreza da herdeira do nome Sackville-West – Violet é o veneno e o remédio que os deuses mandaram. Pensemos qual o artista que não se entrega de corpo e alma na letra, na tinta, ou em qualquer outra produção? É preciso entrega e se há entrega também há grande dose de dor, de paixão, de amor – passio, phatos. A arte é uma catarse – sublimar é elevar o sofrimento ao lugar de tópos, de transformação – superação. É preciso que Vita se entregue a Violet – acordar Mytia e Julian do sono profundo da futilidade para que ele, vestido de fantasias tome Alushka, e se lancem, ambos, no paraíso do prazer e da arte. Um lugar distante de toda a pomposa e esnobe sociedade inglesa – herdeira da moral vitoriana. O tópos de Violet é a paixão incomensurável onde mora a intelectualidade e lubricidade – a beleza. E a melhor parte disso é que em abril de 1918 Vita se entrega, mesmo que temporariamente, ao mundo de Violet.
Anatólia A.